Logo após retirar a mão dele do seu peito, Rosa o olhou e, num tom de brincadeira que serviu apenas para ocultar o seu desprezo real, disse-lhe:
- Prometo que faremos um amor bem gostosinho quando aparecer o primeiro arco-íris sobre nossas cabeças.
Antúrio, desconsolado, riu. Isto porque conhecia como ninguém a região. Sabia que tal fenômeno da natureza ocorria muito raramente por aquelas bandas.
Poucos dias depois, como uma dádiva de Oxumaré, brotava no céu um vistoso arco-íris. De pé mais cedo, ele acordou a mulher e, munido de sua última esperança, apontou para a janela a fim de lhe mostrar a abóbada colorida. Rosa, ainda tonta pelo sono e pelo alarde do companheiro, fechou um olho para poder melhor observar com o outro: a presença das cores sobre um fundo azul era inegável. Sem se desesperar e com uma cara enjoada, fulminou:
- Com aquele tom de vermelho, eu não gosto!
No travo do que acabara de escutar, Antúrio foi tomar seu banho sem nada replicar. Debaixo d’água, um riso chocho lhe desenhou o rosto ao pensar que seria abusar demais dos deuses se pedisse a Xangô para da próxima vez caprichar no encarnado. Um encarnado que nem é do seu departamento.
sexta-feira, 1 de junho de 2007
Prosopopéia do desmantelo rouge
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