A verdade é que me fazes sentir o mais covarde dos homens. Sim, giganta dos desvarios gris, muito bem sei que isso é problema exclusivamente meu, espécie de para-raios das incertezas do mundo e ainda atravessado pelo amor de Mauricéia. Confidencio que contigo a esqueço, pior, esmoreço engabelado por tuas noites, tuas conversas, por teus desprendimentos e tuas bancas modernas. Por que não te assumo? Ora, inverto é a sentença: o que queres tu de mim? Eu que sou apenas um frouxo cafuçu...
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Estive em São Paulo no último final de semana e muito me impressionou a quantidade de colunistas cariocas escrevendo nos grande jornais da cidade. Já no Rio na terça-feira, ao ler meio por acaso (em geral, só faço nos finais de semana) um desses periódicos, encontrei essa coluna fina da Cecília Giannetti que transcrevo abaixo:
De mudança
QUANDO SÃO Paulo me rouba um amigo, engulo em seco e minto: não é o fim da picada, vamos nos visitar. Aí São Paulo -gigante, esperta, não dá pra brigar com ela- vai e me rouba outro. Ameaça carregar mais.
Ultrapassa qualquer lugar do Brasil nesse esporte cruel de tragar filhos do balneariozinho macabro de onde teclo, de levar embora quem me torna suportável o exercício diário de encarar as mesmas calçadas esburacadas.
O abominável excesso de adjetivos hoje não é tentativa de vingança contra São Paulo: é reação que não posso evitar quando essa cidade adota mais um dos meus. Cuspo adjetivos, advérbios; melhor do que chorar, verbo copioso.
Autodestrutiva, uso até o ponto-e-vírgula, coisa que Kurt Vonnegut enquadrava como crime.
Brasília até hoje só me levou um amigo (tinha ambição de diplomata, fazer o quê, prendê-lo ao pé da mesa?), contra a legião que migra para SP agora no que me parece uma revoada. Meus anjos todos se mandando daqui.
Marketing, tecnologia, assessorias, bons salários. Empregos! Nenhum desses ex-cariocas que conheço mudou-se por amor. Nenhum deles conheceu uma moça ("os cornos da Audrey Hepburn") num centro cultural da Paulista e ficou. Fala mais alto a primeira necessidade, apelido do dinheiro, que não é chique mencionar. Quem pode culpá-los? Não os cariocas.
São Paulo atrai com tudo o que o Rio de Janeiro não tem mais desde que começou a deixar de ser mercado para se tornar quase exclusivamente balneário (macabro, macabríssimo), sem que essa transformação resultasse em grandes saltos positivos para o turismo local. Pelo contrário, a turistada também há de fugir.
Péra lá, aqui ficam poucos e bons. Mas até quando? Nem quero pensar nisso. Prefiro ser pega de surpresa, com a notícia chegando de longe, a 400 km de distância. À francesa: "Não vivo mais aí".
Sem festas de despedida, sem abraços, sem presentes, sem promessas. Vão pra Lôca, pro cinza, Cemitério de Automóveis, Mercearia São Pedro, cortes de cabelo assimétricos, inverno sério, digno de cachecol e sobretudo, vão.
Pra mim encerra-se a picuinha bairrista centenária: São Paulo, de fato, é melhor do que o Rio agora que vocês estão lá.
Os que sobramos na cidade fantasma reconhecemos meia dúzia de rostos e mais ninguém. Qualquer dia também fugiremos, vão arrumando o sofá pra gente dormir na sala.
Outros irão pro exterior, não lhes bastará distância pouca. Como se fosse necessário esvaziar um país inteiro para que ele se reconstrua sozinho. Não se pode culpá-los também. Talvez, num lance inédito da história mundial, o poder regenerativo do Brasil prescinda de pessoas para se pôr em ação.
Aos que partem, portanto, boa cidade nova. E um refrão do Antonio Cícero que a gente ouvia no rádio, na famigerada década de 80: "Você me abre seus braços/ e a gente faz um país".
quinta-feira, 21 de junho de 2007
São, São Paulo meu amor
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Um comentário:
adoro as coisasa que a cecilia escreve.
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