"Um indício praticamente seguro de descaminho é o uso da palavra 'espiritualidade'. Também é preciso fugir dela a toda pressa, pois não quer dizer absolutamente nada. Se tivesse um sentido, essa palavra quereria dizer a vida do espírito. Na imaginação e em liberdade, fora dos limites conhecidos. Neste sentido Shakespeare e Dostoievski a praticaram no mais alto grau, assim como Einstein, Kant e muitos outros. Eles viveram pelo e para o espírito. A religião, que se esconde com frequência sob a palavra 'espiritualidade', que de alguma maneira aponderou-se dela, dando a entender, como no passado, que o espírito existe fora do corpo, é, ao contrário, a negação de toda vida independente do espírito, que ela encerra o mais cedo possível atrás das barras de um dogma.
Fujamos dos dogmas, logicamente. Desistamos de encontrar um sentido para nossa vida: ela não tem. Nós nos acostumamos facilmente e não ficamos mal, ao contrário. Podemos substituir a busca do sentido, que é vã, por um esforço pela vida mesma. Substituir o 'por que viver' pelo 'como viver'. E neste caso, sim, há muito a ser dito, muito a ser feito...
(Jean-Claude Carrière em Fragilidade)
domingo, 21 de outubro de 2007
Vida: modos de não usar - notas dominicais XXIV
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