Na vida, com o passar dos anos, constatamos a veracidade de um velho clichê: a existência é feito maré, tem hora que enche e tem hora que vaza. Há quem prefira a metáfora "mortes e ressurreições", não importa a escolha - como naquela publicidade da velha casa de tecido, quem manda é o freguês -, o sentido será sempre o mesmo.
Mesmo completamente ciente da sentença do clichê, alguém poderia explicar por que tanto dói uma morte na vazante da maré?
Respostas serão bem recebidas pelo distinto editor que, sem dinheiro para análise, pede socorro a caixa de comentários deste blog.
Ps.:Deveria mesmo é tomar vergonha na cara e tentar aprender com o velho Dorival:
"Quando a maré vazar
Vou ver Juliana
Vou ver Juliana
Vou ver Juliana..."
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Quando a maré vazar...
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Tecendo a (minha) manhã
Criado pela efervescência cultural do Recife da década de 90, tomando lições do groove afrofuturista da Nação Zumbi e de máximas como "é povo na arte, é arte no povo, e não povo na arte de quem faz arte como o povo", confidencio que, mesmo tendo tomado um percurso acadêmico, sempre tive uma certa resistência aos nossos "grandes heróis" culturais. E uma rápida genealogia da maioria destes personagens, legitima meu sentimento. No entanto, Gilberto Freyre e João Cabral são escritores desta cepa que, por caminhos literários diferentes, provam que o mundo é muito mais complicado do que a nossa arrogância pressupõe. Graças a Deus, seria o caso de dizer, pois facinho nesta vida só pescar agulha com faxo em Itamaracá (e ainda é assim, é?).
Não me deterei aqui no Conde de Apipucos, só um pouquinho no poeta João. Sobre este último posso dizer que minha admiração por ele já vem de certo tempo, por um viés meio atravessado, mezzo situacionista, mezzo punk, costura possível que faço através da sua luta contra o lirismo, contra o derramamento sentimental (coisa que o mercado e a publicidade adoram) - há de se considerar também nesse meu apego ao "homem sem víscera esquerda" a semelhança de sua poesia com a prosa enxuta do grande (esse de verdade verdadeira!) Graciliano.
Bom, mas o motivo desta minha ladainha é que hoje, quando ainda estava "Tecendo a manhã", fiquei sabendo que as obras completas do poeta está sendo relançada. E meu pombo-correio foi Arnaldo Jabor(!), de quem trago abaixo a crônica publicada nos jornais de grande circulação do país. Os leitores devem estranhar a presença do ex-cineasta neste blog (assim espero!), mas o texto é bacana (olhem o trecho: "essa renúncia ao sonho individual da 'iluminação de um individuo inspirado', o desejo de ser apenas uma coisa-do-mundo") e deixa um monte de janelas para pensamentos e discussões. Leiam e digam...
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João Cabral nos mostra o Brasil em negativo
Arnaldo Jabor
A Editora Objetiva está lançando agora a obra completa de João Cabral de Melo Neto, pela coleção Alfaguara e, assim, revitaliza um dos maiores poetas do mundo, que muito brasileiro desconhece. Isto lembrou-me uma das frases mais profundas que conheço sobre a serventia do artista, que é de Paul Cézanne: "Eu sou a consciência da paisagem que se pensa em mim".
Essa ligação com a natureza perdida, esse apagamento da distancia entre sujeito e objeto, essa renúncia ao sonho individual da "iluminação de um individuo inspirado", o desejo de ser apenas uma coisa-do-mundo, tudo isso me lembra João Cabral de Melo Neto, de quem se pode dizer: ele foi "a consciência da linguagem se falando nele".
Ele sabia disso: "Eu só falo das coisas e, de certa forma, estou falando de mim por elas..."
Em geral, os críticos o definem como o poeta brasileiro que nos ensinou a "não perfumar a flor, nem poetizar o poema", a propósito de seu estilo seco, como se ele fôsse apenas um faxineiro dos parnasianos e dos palavrosos. Mas, João foi muito mais que isso.
Se, por exemplo, examinarmos o seu extraordinário poema "Uma Faca só Lâmina" (um dos maiores da língua portuguesa) veremos que ele é um dos raros artistas que tentaram passar "alem da arte" e entrar numa terra-de-ninguem que poucos visitaram, uma "waste land", um latifundio pré-linguagem, querendo o impossível: atingir o "real", essa "terra não descoberta", avistada por alguns como John Donne, mais tarde, por Francis Ponge, Marianne Moore, gente que não estava apenas fazendo poesia, mas epistemologia. Para mim, João Cabral fez uma teoria da percepção.
Antes de morrer, ele disse a alguém: "Escrevo não para me expressar, mas para preencher um vazio". Quem tem coragem de entrar nesse vazio, na "falta", na falha eterna que nos cega? João teve a obsessão de atingir algo além do tempo e do espaço, uma espécie de "sonho kantiano", a vontade de ir alem do "fenômeno". "As vezes, nos dá a sensação de ter conseguido.
João passou a vida com uma dor de cabeça torturante não era para menos. Que cabeça aguenta esse esforço permanente de ter dois microscópios no lugar dos olhos, de flagrar o decorrer do tempo no alpendre, no canavial, o tempo corroendo as coisas como um vento invisível? (Van Gogh pintou o tempo se passando no espaço e se matou).
Como Proust, João Cabral também fez a geometria dos sentimentos, descrevendo a planta baixa das emoções, esquadrinhando-as como objetos concretos, de todos os lados, sem aspiração á transcendências "inspiradas", sempre comparando matéria com matéria, mostrando que a mulher é igual a fruta, que a praia é o lençol na cama, que a bailarina espanhola é a égua e a cavaleira, que o rio tem dentes podres, que o cão não tem plumas, que a alma do miserável cassaco de engenho é feita de pano sujo de aniagem. João Cabral nem parece um artista; parece cientista, matemático, o que fortalece seu sopro lírico, domado, mas circulando como sangue dentro da pedra.
João virilizou muito a poesia , acabou com a sensação de que arte é frescura ou coisa "de veado", como dizia meu pai, engenheiro, filho de poeta árabe. Tive um grande alivio quando ele me disse, uma vez, quando o entrevistei: "O mal que Fernando Pessoa fez a literatura é imenso. Aquela coisa derramada, caudalosa, criou uma multidão de poetastros que acreditam na inspiração metafísica".
Eu, que rosnava covardemente pelos cantos porque não gostava de Pessoa, finalmente respirei. E João Cabral continuou : "Eu saio do poema suando, com picareta. Minha obra é motivo de angustia. O sujeito tem de viver no extremo de si mesmo. Eu vejo isso na tourada. O bom toureiro é o que dá impressão ao publico de que vai morrer".
A importância de João Cabral é imensa também nesse campo do que chamam de "poesia política, engajada" e outros termos insuficientes. Pela forma, pela recusa a idéias gerais, João Cabral fez a poesia mais profunda sobre o Brasil, a mais "política" também.
A visão que sua poesia nos dá sobre a miséria do país não vem de conteúdos, de brados contra a injustiça ou de denuncias de tragédias. Assim como a importância política de Brecht se fez muito mais pela inversão dos significantes da forma teatral, muito mais em "Baal" ou na "Selva das Cidades" do que em suas peças didáticas, assim também João Cabral nos ensinou muito sobre o Brasil através de suas visões do vazio, movidas apenas por uma discretíssima compaixão. Na entrevista, Cabral critica Mario de Andrade: "Essa historia de identidade nacional é invenção dele. Esse negócio de síntese do Brasil é bobagem. Grande é Gilberto Freyre, que escreveu sobre o cotidiano da escravidão. As parcialidades é que iluminam". Ele também disse, nesta entrevista, há 15 anos: "o Brasil está numa crise de parto. As coisas são sinistramente surpreendentes. A ditadura torturou, mas não regrediu o país. Agora, com a liberdade, está parado. Dá para entender? Se puser o homem mais genial do mundo no governo, os estamentos burocráticos e os políticos reacionários não deixam o país crescer..."
João Cabral descreveu o Brasil em negativo. Ele não nos mostra a pobreza; ele mostra a riqueza que nos falta. Em sua poesia, pelo avêsso, João nos mostrou tudo o que "não temos". João mostrou-nos o que poderia ser nossa lingua (e não é). João Cabral nos mostrou o que o país está perdendo.
Jovens, leiam João Cabral e salvem-se!
domingo, 26 de agosto de 2007
Originalidade - notas dominicais XVI
"Toda vez que Alberto senta para escrever, não consegue desenvolver nenhuma idéia, acha tudo coisa passada, já escrita, sente-se como uma criança montando um quebra-cabeça montado e desmontado milhares de vezes. Alberto imagina todos os outros que já estiveram debruçados em sacadas, olhando para o céu, fumando, tomando decisões idiotas, sem perspectiva. Alberto é ingênuo o suficiente para pretender ser original e acreditar nisso. Escreve por orgulho. Além de talento, falta-lhe vergonha na cara - como tem pânico de morrer, acha que o que escreve pode sobreviver a si mesmo."
(trecho de Corpo presente, romance de João Paulo Cuenca)
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Gênero híbrido entre a literatura e o jornalismo, a crônica construiu uma trajetória bastante fértil no Brasil. Desde o pioneirismo dos nossos cânones Alencar e Machado, passando por Lima Barreto e João do Rio, até os escritores modernos, ela vem enriquecendo nossa história literária, formando (quem não lembra daquele número da coleção Para gostar de ler?!) e informando leitores em todo nosso vasto território. A variedade de temas neste percurso é imensa, mudando de acordo com os momentos históricos e com o universo e perfil dos cronistas. No entanto, pelo menos a partir de sua fase moderna, um tema foi recorrente entre os autores: a falta de assunto sobre o que escrever. Praticamente todos aqueles que fizeram da crônica um ofício, escreveram sobre isso. Ou sobre o próprio gênero, trilho que funciona como arrodeio metalinguístico para despistar a ausência de matéria narrativa.
Todo esse preâmbulo é para anunciar uma pequena maravilha que diz respeito a esta prosa. Chama-se Cronicamente inviável, texto d'O Carapuceiro, blog cujo dotô aqui é cria e criado. Boa leitura!
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Cansando o cansado
Já é datado constatar que a "popularidade" do movimento "Cansei" não decolou. Porém, ontem chegou aos meus estranhos olhos este vídeo engraçado que vale o confere:
Sujeito ultrapassado que sou, descobri a pérola no blog Cansei, tô cansadinho..., espaço satírico sobre movimento articulado pela elite paulista. Para quem gosta de esportes como chutar cachorro morto, empurrar bêbado em ladeira e afins, vale a passada.
domingo, 19 de agosto de 2007
Versão viciada dos fatos - notas dominicais XV
"Essa realidade espelhada me faz temer estar ficando louco de desesperança, como se não conseguisse enxergar além das paredes do cubículo e de um corpo suado. Não há perspectiva alguma além de um emprego barato e uma ou outra foda embebida em álcool. As portas estão fechadas ou abertas demais. Não há sentido pra essa versão viciada dos fatos."
(mais um trecho do romance Corpo presente, obra de João Paulo Cuenca)
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Psicogeografia
Os casos e as ficções fugiram deste blog que tomou um rumo um tanto político, é verdade. É que ando meio sem tempo e imaginação. Confidencio que algumas das historinhas que foram postadas aqui eram de minha gaveta (não todas! tinha uns free-styles também!). E como não queria transformar este espaço num "meu querido diário" (apesar de ter razões contra o modelo, não o fiz por incapacidade mesmo), aproveitei algumas de minhas indignações em relação a certas leituras do cenário político nacional e mandei brasa disponibilizando textos dos outros, comentários meus, entre outras mumunhas.
Bom, mas falarei de mim agora. Na verdade, de uma coisa que venho fazendo. Como estudo a possibilidade de fazer um pós-doc, ando xeretando temas que poderiam ser possíveis. Entre um brainstorm e outro, viajo em coisas malucas como imaginar algo que eu possa trabalhar com o conceito de "psicogeografia". De acordo com o seu inventor, o situacionista Guy Debord, o tal termo propõe o estudo das leis precisas e dos efeitos exatos do meio geográfico, conscientemente organizado ou não, em função de sua influência direta sobre o comportamento afetivo dos indivíduos. Para ele, o adjetivo psicogeográfico conserva uma incertidão bastante agradável e pode ser aplicado às descobertas feitas por esse tipo de investigação, aos resultados de sua influência sobre os sentimentos humanos.
Para quem não o conhece, Debord foi o fundador da Internacional Situacionista (1958-1972), movimento que nunca buscou a hegemonia como projeto político, mas antes o contrário, através da contestação do sistema capitalista e dos projetos revolucionários de seu tempo anunciando-lhes a derrota antecipada, já que sua força-motora era a outra metade da cara do projeto capitalista - era notória, por exemplo, sua crítica ao comunismo institucionalizado dos PCs - ou seja, a contestação crítica era sua marca, pois punha-se contra a sociedade burguesa bem como aos que encenavam oposição a ele. Foi ele quem escreveu o clássico "A Sociedade do Espetáculo".
Pois bem, solicito aos leitores que se algum de vocês tiverem qualquer bibliografia sobre o tema, entrem em contato!
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Um "galo" de posts!
Extra! Extra! É o Doutor Estranho completando 50 posts! Como diria a língua das ruas, um "galo" de posts! E para saudar o marco, postagem comemorativa com novo figurino e oferendas.
Primeiramente gostaria de informar aos leitores que renovei os prazos do meu currículo e dos artigos da seção Textos outros (ambos aqui do lado direito) que estavam hospedados no 4Shared - agora estão disponibilíssimos em arquivos pdf!
Ainda nesta seção do blog, disponibilizei um novo link para minha tese, defendida este ano no departamento de Letras da PUC-Rio e agora fresquinha no ciberespaço. Ela discute a questão da identidade nordestina, tomando como estudo de caso as crônicas publicadas n'O Carapuceiro, site que circulou na web entre os anos de 1998 e 2005 sob a editoração do jornalista Xico Sá (mantém o blog homônimo - clique aqui para ver). Quem não tiver saco para elocubrações acadêmicas, aconselho ir direto ao filé que está nos anexos da tese: praticamente todas as crônicas publicadas no distinto órgão! São quase 500 páginas assinadas por 68 autores - além do referido editor, escritores como Nelson Rodrigues, Miguel do Sacramento Lopes Gama, Bocage, Miss Soledad, Honoré de Balzac, Evaldo Cabral de Mello, Renato L, entre outros... e bom mesmo é o precinho, que nem aquela toada do subcomandante ZeroQuatro: R$0,00. (Faço alerta pra um inconveniente apenas, este arquivo pdf dos anexos é grande, cerca de 4.6MB).
Espero que façam bom proveito que eu vou já abrir a galega do frizi que me espera, pois este Doutor é esquisito demais pra gostar de champanhe...
domingo, 12 de agosto de 2007
Baile da comunidade - notas dominicais XIV
"Vamos pro baile. Mas tem que ser o baile raiz. Tem que ser o baile da comunidade, essa popularização inversa está manchando o movimento. A pior coisa que pode acontecer com qualquer estética é ser adotada pela classe média. Mas não é isso que a gente acaba querendo mesmo?"
(trecho do romance Corpo presente de João Paulo Cuenca)
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
2° grau
Antes que acusem este estranho doutor de lulismo, petismo ou quaisquer outros ismos, lembro aos desatentos que ele faz, e sempre fará, jus ao adjetivo de sua alcunha. Não sou do PT nem filiado a nenhum partido. Da mesma forma, não sou um idiota para ignorar a história política do país. Logo, não posso esquecer que o atual governo é (ou era?) a maior esperança de, pelo menos, alguma fagulha transformadora da histórica e lamentável estrutura social brasileira. Isso é inconteste e a gente aprende no colégio, 2° grau - no meu caso, feito em uma instituição privada, privilégio de classe (tenho a plena consciência disso), preciso ao menos honrar o dinheiro da família, pois se matérias com matemática, física e outras afins não vingaram na minha caixola, aprendi algo com as lições de história.
Se o atual governo não está a contento, creio que isto seja motivo de dor. Nenhum outro sentimento caberia. O que vejo constantemente nas ruas (mais abastadas, claro), no entanto, é um certo prazer nas críticas, quase um gozo com os desvãos da administração federal.
Aos que se deliciam com os deslizes do governo, lembro-lhes que na história recente do Brasil, como vocês devem saber, não existe nada acontecendo para que tenhamos novas esperanças de um país efetivamente mais democrático. E isso também é motivo de dor. Talvez mais.
Feito o prelúdio, trancrevo abaixo mais uma boa crônica do Veríssimo, publicada ontem, e que tem a ver com o tema. Allez!
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Inauguradores
Da sua fundação até a eleição de Andrew Jackson em 1829, a república dos Estados Unidos da América foi presidida por seis aristocratas. Entre eles cinco dos autores da sua constituição, o primeiro contrato social republicano da História, que incluía o que depois seria chamado (por Gore Vidal) de “divino remendo”, a Carta dos Direitos, mas também uma desproporcional preocupação com o direito de propriedade – não fossem todos os seus signatários proprietários rurais, além de escravocratas. As credenciais dos primeiros presidentes da nova república como teóricos da democracia – em especial as de Thomas Jefferson, o mais intelectual dos fundadores – eram intocáveis. Mas foi o sétimo presidente quem pos à prova a teoria e, para todos os efeitos históricos, inaugurou a democracia americana. Andrew Jackson foi posto na Casa Branca por um movimento popular, e mais pela sua personalidade do que pela sua procedência. Fundou o que até hoje chamam por lá de “jacksonian democracy”, para a distingui-la da primeira fase, teórica, da democracia, ou enfatizar sua diferença de outros modelos republicanos – nem sempre como um elogio.
No México, Benito Juárez também foi um primeiro. No seu caso, o primeiro mexicano com cara de mexicano autêntico a chegar ao poder desde a conquista espanhola. Mais importante do que seus períodos na presidência foi a sua cara, e o que ela simbolizava. Índios, meio-índios e não índios se alternaram no poder depois de Juárez, mas o que a primeira eleição, em 1858, de alguém cuja língua original fora o zapoteca significou para a consciência mexicana se vê até hoje na mitificação da sua figura, e não apenas nos murais de Rivera e Siqueiros. Como Jackson, Juarez foi um inaugurador.
A comparação entre os dois termina aí. Juárez tentou modernizar o México, enfrentou os latifundiários e o poder da Igreja – além de invasores franceses e a influência do grande e metido vizinho do norte. Ou seja, não foi apenas uma carranca bonita. Jackson fez a sua reputação e ganhou sua popularidade como militar particularmente truculento, arrasando ingleses e índios com o mesmo gosto, e acabou um senhor rural, dono de escravos, como os aristocratas que desprezava e o desprezavam. Ele, sim, foi apenas um símbolo. Mas tanto o México quanto os Estados Unidos se beneficiaram do ineditismo que os dois representaram em suas histórias.
É difícil dizer se o Lula está fundando alguma coisa. Se depois dele virá algo melhor, pior, a mesma história de sempre – ou o dilúvio. O tamanho dessa reação ao inédito que ele representa na nossa política também é difícil de interpretar. É reflexo condicionado do conservadorismo ameaçado, é uma repulsa justificada e terapêutica – ou é apenas o Brasil, como sempre, deixando para fazer depois (como no caso da absolvição da escravatura) o que outros países fizeram há tempo? Sei lá.
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Algo estranho no nosso "Reino da Dinamarca"
Escrevo do Sudeste do Brasil, região onde o flerte com o primeiro mundo é maior, apesar da localização geográfica mais distante e do crescimento da cultura web com seu esforço para colocar todos numa utópica igualdade informacional. É aqui onde circula o dinheiro no país, onde há mais trabalhos, onde fica a maior parte de nossas indústrias, inclusive a cultural. Lugar da (pós-)modernidade, onde tudo é hype, descolado e, com sorte, vip. Centro do interesse do Brasil, onde até consultora de etiqueta da região dá dicas para todo o resto do país, através da sua maior rede de televisão, de como se comportar nas mesas (e ela sabe comer sururu? chupar ostra, sabe?! e traçar um tacacá?).
Pois bem, é desse centro que vejo se manifestarem movimentos de mobilização para tirar o primeiro presidente de origem popular do país. Movimentos cheios de bravatas morais e que, se fizermos uma pequisa genealógica aguçada, são liderados por aqueles que instituíram a maior vergonha moral da nação que são as suas desigualdades regionais. E o pior, vejo esses movimentos serem divulgados por pessoas ligadas ao mundo artístico-cultural que, teoricamente, deveria ser o mais sensível as injustiças cometidas pelo espírito humano.
Não quero aqui retomar a peleja modernista Norte x Sul (já sugerida no resultado das últimas eleições presidenciais), mas tem algo estranho acontecendo no nosso "reino da Dinamarca"...
domingo, 5 de agosto de 2007
Cemitério de idéias - notas dominicais XIII
"O calor evapora as poças do Baixo Gávea, pra você ver a falta de opção, e copos entornam enquanto mulheres mal depiladas a quarenta e cinco graus olham pra nossa mesa. Eu não aguento mais essa encheção de saco, sabe Alberto? Esse cemitério de idéias, o som vazio de todas essas bocas abrindo e fechando, bebendo e comendo pizzas tão requentadas quanto os seus pensamentos. Você pode sentir o nada sobre a nossa cabeça, é só um enorme murmúrio sem sentido nem direção. Não há o que tirar daqui, não há matéria-prima pra nada, a fonte secou. Toda essa sofisticação babaca e deslumbrada e eu só enxergo aves de rapina comendo merda num deserto estéril."
(mais um trecho do romance Corpo presente de João Paulo Cuenca)
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Sexta-trégua para o Dr. E.
Depois de uma semana de crises políticas, profissionais, conjugais e esportivas (esta daqui salva pela batalha da Baía dos Porcos), Dr. E. pede uma trégua. Em meio aos seus afazeres, autorizou-se um recreio no youtube e encontrou esta pérola ao acaso. Trilha pra sexta-feira. Mas não vão se perder poraí, andem certo na contramão.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Ainda sobre o "cansaço"
Segue o link pra uma crônica sobre o tema do post anterior. Mais uma vez, boa leitura!
O porquê do “cansaço” da elite branca