domingo, 16 de agosto de 2009

Diz, Artista! - notas domênicas

"Se renunciar à 'Arte' é difícil para alguns, é por que talvez ainda não se tenha entendido que a entrega à vida (ou à 'realidade', como alguns preferem chamar) não significa a nulificação do estético.
Muito pelo contrário, o 'artista' aqui é o pensador, o criador de estratégias de ação, o arquiteto de atos que vão reverberar - a intensidade desta reverberação é claro que dependerá dos meios, finalidade e impactos planejados - nesta mesma 'realidade'. Daí então a importância do conceito, desta mesma herança conceitual de que parte da arte brasileira é tão rica, e que tem sido esquecida faz tempo.
Ações pontuais e absolutamente despretensiosas, como a mudança do nome da avenida Roberto Marinho para avenida Vladimir Herzog, pelo Centro de Mídia Independente, em São Paulo, no ano passado, podem não passar por 'Arte' nos cânones vigentes, mas seu poder simbólico é tal que serve para inspirar mais táticas conceituais que desmantelem o arcabouço mental dominante.
Se a arte conceitual tradicional transformou em 'Arte' a rua e os elementos incompatíveis, temporários e cotidianos, atualmente o sentido não é transformar esses lugares e coisas em 'Arte', mas diluir-se 'com arte' neles, ressignificando-os, ressimbolizando-os, efetuando uma transformação subjetiva ou real, semiótica, mitopoética, social ou ritual."

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"Tentativas de trabalhar com comunidades desfavorecidas podem ter diversas nuances possíveis de abordagem, e nisso muito do que é chamado lá fora de 'community art' ou 'new genre public art' pode ter algo a informar. O risco de uma visão simplificada como 'trabalho de ONG' é algo que se corre, mas nada que uma estratégia conceitual bem arquitetada ou uma 'criatividade de artista' não possa solucionar."

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"Brasileiros costumam às vezes ser muito auto-centrados, muito voltados para si mesmos. Em que pese certa elite ser excessivamente internacionalizada ou eurocêntrica, como boa parte do meio acadêmico, grupos mais à margem costumam manter certa distância ou desconhecimento intencional das ações de grupos de fora."

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Trechos do artigo Notas sobre o coletivismo artístico no Brasil, de Ricardo Rosas. Para lê-lo na íntegra, basta clicar aqui!

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