Matéria que saiu hoje no Jornal do Commércio de Recife:
Aposentada descansa em casa com a família
Terminou, ontem, às 9h, o martírio da aposentada Lídia do Bom Parto Simões (foto), de 87 anos, abandonada pelo neto num ônibus que saiu do Rio de Janeiro com destino a Feira de Santana, na Bahia. Depois de quase 15 dias de sofrimento, sem parentes ou documentos e com apenas R$ 10 no bolso, ela chegou à casa onde viverá a partir de agora, com o filho Antônio Ferreira da Silva, 63, no Amparo, em Olinda, município da Região Metropolitana do Recife.
Ainda confusa com os acontecimentos, parcialmente cega e surda, e com uma avançada perda de memória, dona Lídia só pensava em comer. “Estou com fome, muita fome. Cadê minha comida?”, indagava a todo instante, enquanto era cercada e paparicada pela família. Sentada num sofá e com uma boina nas cores do Santa Cruz Futebol Clube, a toda instante ela brincava ou fazia perguntas sobre o lugar onde estava. “É aqui que vou viver agora? Eu vou embora, aqui não é tão bonito como lá (Rio de Janeiro)”, dizia, dando risadas.
Momentos depois, dava sinais de lucidez. “Cadê Amaro? Você sabe dele? Ele tem vindo aqui?”, perguntava, numa referência ao mais novo dos dez filhos, Amaro Ferreira da Silva, 50 anos, que reside na Zona Norte do Recife. Também fez referência a possíveis maus tratos sofridos no Rio. “Eles jogavam água quente e depois água fria sobre mim. Me deram até injeção na boca”, contava. A família da aposentada era pura felicidade. “Agora eu tenho mãe. Ela não sai nunca mais de perto de mim. Onde eu for, ela vai comigo. Vou cuidar dela até o fim”, vibrava o pedreiro Antônio Ferreira da Silva.
Apesar da revolta, o pedreiro disse que iria esquecer o que houve, deixando claro que não tomaria providências contra os familiares que abandonaram a aposentada no ônibus, após vender a casa onde ela vivia na Zona Norte do Rio de Janeiro e sumir com o dinheiro. “Não vou entrar na justiça contra eles. Por mim, já perdoei e entrego a Deus e aos homens de bem para ver o que acontece. O que importa é ter achado minha mãe e estar com ela. Mas que nenhum deles se atreva a vir por aqui”, afirmou.
A única preocupação do pedreiro é descobrir o total das dívidas que os parentes do Rio de Janeiro fizeram em nome da mãe, já que estavam vivendo da aposentadoria que ela recebe. “Queremos regularizar a situação dela para que volte a ter seu próprio dinheirinho. Vamos usá-lo com ela. Pretendo, se der, fazer um quarto na minha casa só para ela. Por enquanto, vamos nos ajeitar como podemos”, disse.
Depois de comer um prato com feijão, arroz, farinha e cozido, dona Lídia pediu diversas vezes ao filho para levá-la à sede do Clube Vassourinhas, que fica próximo à casa onde agora irá viver. “Você me leva lá, leva?”, insistia a aposentada.
domingo, 12 de outubro de 2008
"Somos nós os Vassourinhas" - notas dominicais (2)
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2 comentários:
feijão, arroz, farinha e frevo... essa é a dieta fundamental pro corpo e pra alma, nêgo. Que história! bjs
os "vassourinhas" só podiam ser "santinha" !!!
bjs,
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