Esqueci de divulgar nesta bodega eletrônica a conferência que o filósofo Slavoj Zizek proferiu ontem no campus da UFRJ na Urca (este é um blog cada dia menos sério...) . O Dr. E. foi lá e conferiu a verve retórica do esloveno (que, aliás, não é fraca, não!). A exposição ficou um tanto desamarrada, pois ele fala como um cavalo brabo que se solta no campo - é um intelectual "sujo", no melhor sentido rock'n'roll da palavra. Cuspirei, no mesmo estilo, alguns pontos que foram abordados:
- começou argumentando que se debruça sobre o cinema hollywoodiano pois é nele que a ideologia se apresenta de forma mais clara para o grande público. Exemplificou com dois filmes recente: Batman - O Cavaleiro das Trevas e o desenho animado Kung-Fu Panda;
- o comentário acima parece óbvio, mas serviu de ótima introdução para o principal tema de sua fala: ideologia;
- comentou sobre o filme Eles vivem (segundo ele, em matéria recente do caderno Mais!, uma das obras-primas esquecidas da esquerda de Hollywood), de Jonh Carpenter, no qual o protagonista ao usar um óculos estranho que encontrou passa a enxergar todas as mensagens reais da publicidade (tipo: "não pense, consuma!");
- discorreu sobre os estágios históricos da publicidade, classificando-os em três: 1) quando a mensagem dizia diretamente ao produto (ex.: esse é o carro mais econômico, mais forte etc.); 2) quando ela fazia o consumo do produto implicar em status (ex.: seu vizinho não tem um carro desse); 3) o atual, quando o produto lhe arranca deste mundo em ruínas (ex.: entre nesse carro e deixe pra trás todas as mazelas que lhe aflingem);
- criticou alguns modismos do mundo contemporâneo como o consumo de orgânicos e do espiritualismo oriental. Atacou também a nova campanha da rede Starbucks que concede 5% do dinheiro de um café aos pobres de algum país do terceiro mundo. Considerou tudo isso como formas de descarrego da culpa, mecanismos que aliviam as pessoas, não levando-as a realmente pensarem sobre o funcionamento do planeta (mais um modelo ideológico);
- condenou certos tipos de lutas minoritárias que, para ele, são muitas vezes falsos embates previstos (e estimulados) pela ideologia dominante;
- sobre a América Latina atual, chamou a atenção para um perigo populista em Hugo Chávez, ressaltando, no entanto, que gosta de sua luta;
- meteu o pau no clima dos fóruns sociais mundiais, classificando-os de eventos "carnavalizantes", no sentido do termo empregado pelo teórico russo Mikhail Bakhtin (que também foi alvo). Para ele o melhor seria que o carnaval não fosse o evento, e sim a normalidade da vida.
- desceu a lenha também no cineasta Emir Kusturica, a quem acusou de folclorizar os balcãs (usou o termo "balcanismo" em analogia ao "orientalismo" de Edward Said);
- Por fim, concluiu dizendo que segue acreditando, acredite, na revolução.
Bom, quem quiser conhecer mais sobre o Zizek, ele acaba de lançar um livro no Brasil chamado A visão em paralaxe (pela editora Boitempo) e escreve na seção "Autores" do citado Mais!, suplemento dominical do jornal Folha de São Paulo. Ah! encontrei também este vídeo no canal de televisão de todos, o Youtube (a tradução é em português de Portugal, única na língua que encontrei):
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Revolução na Urca: Zizek!
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5 comentários:
bravo
J
Obrigada pela visita.
Cultura local faz parte do seu espaço. Agradeço mais uma vez.
Quanto a seu post, só posso lhe elogiar. Ótimo texto.
Valeu pela dica de Jonh Carpenter!
Abs
meu garoto, não sei se elogio primeiro o palestrante ou você, nossa, realmente o seu texto fala bastante, nossa, são tantas idéias que me vem na cabeça que vou usar uma delas para exemplicar todas...
um dia falando com um amigo, chegamos a uma conclusão, a qual cabe também para o seu blogue...
isso por que eu meu camarada chegamos a conclusão de que o mundo precisa das pessoas, então, fico feliz por saber que a internet tem o seu blogue.
parabéns, vou dar uma vasculhada aqui e te garanto que voltarei outras vezes.
sorte e luz, por que enquanto você escreve o mundo responde.
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