"Que as pessoas possam perceber, naquilo que tomo emprestado, se eu soube escolher algo capaz de desenvolver meu tema. Pois faço terceiros dizerem o que não sei dizer tão bem, seja pela deficiência da minha linguagem, seja pela deficiência do meu entendimento. Não conto os empréstimos que tomo, eu os peso. E, se desejasse avaliá-los em função do número, teria acumulado o dobro. São todos, ou quase todos, tomados de figuras tão célebres e antigas que parecem se identificar o bastante, sem que eu precise fazê-lo. Nos pensamentos e criações que transplanto para o meu solo e aos meus mesclo, de quando em vez, propositadamente, não indico autor, a fim de deter a temeridade daquelas condenações prematuras que são disparadas contra todos os tipos de escritos produzidos por homens que ainda vivem, e escrevem na língua vulgar, que a todos convida a falar.(...)Preciso esconder a minha deficiência atrás dessas grandes autoridades. Aprecio qualquer um capaz de me superar, isto é, pela clareza do discernimento e pela distinção da força e beleza das observações. Pois eu que, por falta de memória, sempre deixo de percebê-las com base no conhecimento de suas fontes, posso muito bem perceber, ao avaliar a minha capacidade, que o meu solo não é, absolutamente, capaz de produzir as belas flores que por lá encontro semeadas, e que o frutos da minha própria lavra não podem a elas se comparar."
(Michel de Montaigne no ensaio "Sobre Livros")
domingo, 31 de agosto de 2008
Filho dos outros - notas dominicais
Marcadores:
Literatura,
Montaigne
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Um comentário:
Hello, stranger..
'Pois eu que, por falta de memória, sempre deixo de percebê-las com base no conhecimento de suas fontes, posso muito bem perceber, ao avaliar a minha capacidade, que o meu solo não é, absolutamente, capaz de produzir as belas flores que por lá encontro semeadas, e que o frutos da minha própria lavra não podem a elas se comparar.'
Gostei!
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