sábado, 17 de novembro de 2007

Maurícia Vila Morena - notas dominicais XXVII


Há quanto tempo que não te vejo!
Não foi por querer, não pude.
Nesse ponto a vida me foi madrasta,
Recife.

Mas não houve dia em não te sentisse dentro de mim:
Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,
Recife.

Não como és hoje,
Mas como eras na minha infância,
Quando as crianças brincavam no meio da rua
(Não havia ainda automóveis)
E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas
(Continuavas província, Recife)

Eras um Recife sem arranha-céus, sem comunistas
Sem Arraes, e com arroz,
Muito arroz,
De água e sal,
Recife.

Um Recife ainda do tempo em que o meu avô materno
Alforriava espontaneamente
A moça preta Tomásia, sua escrava,
Que depois foi a nossa cozinheira
Até morrer,
Recife.

Ainda existirá a velha casa senhorial do Monteiro?
Meu sonho era acabar morando e morrendo
Na velha casa do Monteiro.
Já que não pode ser,
Quero, na hora da morte, estar lúcido
Para mandar a ti o meu último pensamento,
Recife.

Ah Recife, Recife, non possidebis ossa mea!
Nem os ossos nem o busto.
Que me adianta um busto depois de eu morto?
Depois de morto não me interessará senão, se possível,
Um cantinho no céu,
"Se o não sonharam", como disse meu querido João de Deus,
Recife.

(Recife, poema de Manuel Bandeira)

5 comentários:

Anônimo disse...

muito, muito bom ler isso, hj. aqui.
beijo grande p'roce.

Anônimo disse...

Bazo;
aonde estás, aonde estivestes?
abs

T.E.I.A disse...

Prof. Roberto /Bazo
Foi muito bom encontrá-lo em Recife.
O senhor tem muita poesia.
Abraços pajeuzeiros
Lívia
Grupo TEIA

Adriana Vaz disse...

coisa mais linda nêgo/preto! :)
Aqui em nosso "trópico" andamos pelas pontes: a gente queima,arde, doe um pouco, a gente fica mais duro pra vida, mas depois vem uma chuvinha pra molhar... e a gente começa a trocar as "cerjevinhas" pelas cachaças fortes! Segura o figado amor! como diria o nosso Kurt Vonnegut (que sempre há de nos proteger), "...é da vida"

Anônimo disse...

coisa linda Nêgopreto ;)

aqui nesso nosso "trópico" andar pelas pontes pode ser de queimar, de arder, de doer mas depois vem a chuva e ai a gente troca as "cervejinhas " por uma cachaça forte! e Recife nos mata e a gente sobrevive! como diria nosso0 Kurt Vonnegut "...é da vida"!!
besos!