terça-feira, 6 de novembro de 2007

João Paulo Cuenca strikes again!

E não é com o Dia Mastrorianni, seu segundo romance recém saído do forno da editora Agir e que este editor ainda não leu - se manter a pegada do Corpo presente, continua maravilha; mas sim com sua coluna publicada hoje (que já é ontem enquanto posto) no Megazine (caderno juvenil) d'O Globo. Num é que o menino parece que tá acertando a mão nas crônicas?! Leiam e digam:

Tintim Festival e outras estórias

1. Uma vez por ano, um grupo de artistas da região metropolitana do globo aporta em terras periféricas. Nos subúrbios iluminados do planeta, nababescos picadeiros são erguidos especialmente para o festival de música, realizado em torno de uma plêiade internacional eleita por seitas secretas em rituais ainda mais secretos.

Dias depois, a sede cosmopolita dos habitantes desse povoado distante estará saciada — até a próxima grande atração estrangeira, também patrocinada por algum conglomerado multinacional.

2. Postados ao redor de uma praça na cidade do interior, os palcos que recebem tão prestigiosas atrações normalmente têm a lotação esgotada, apesar do estratosférico preço dos ingressos — que podem ser bastante mais caros do que os da metrópole.

Mas o que é um par de cobres perto da glória terrena? Durante dois dias, a praça do festival se transforma no centro nervoso da intelligentsia e elite locais, onde se reúnem os filhos dos capitalistas da província, seus trovadores, poetas, bobos da corte, estudantes, periodistas, damas de honra — e de companhia. Todos vestidos com roupa de missa no feriado.

3. O que causa espécie aos forasteiros que convivem com esse aglomerado humano tão especial é que, se todos pagaram caro para ter acesso aos palcos da quermesse, a maioria não está exatamente preocupada com o que se passa por cima deles.

Os espetáculos e seus performers estrangeiros são figuras secundárias ao lado de tão influentes presenças locais. Durante as apresentações, a selecionada platéia não pára de olhar sobre os ombros, se lamber com a vista, desfilar suas belezas e falar e falar — especialmente quando nada há a dizer.

4. No esperado show da Björk, durante as canções mais atmosféricas, este observador, que estava ali, na meiúca da muvuca, pôde testemunhar o murmurinho incontrolável.

Olhei ao meu lado e vi: a consagrada coreógrafa, o crítico musical paulistano, a atriz sub-18, o diretor de TV e seus figurantes de camisa justa, os formadores de opinião do balneário, e eles não paravam de ruminar palavras sobre palavras, como se precisassem da música para se esquecer da música. A atração no palco é coadjuvante desse espetáculo.

O brasileiro é a musa de si mesmo. Todos nós, na voluptuosa platéia, éramos infinitamente mais relevantes do que a pobre islandesa que se esgoelava no palco. A pequena só ganhava a atenção e as palminhas da turba quando dizia um desastrado “obrigado” — em português, “ooohs!” de admiração e orgulho pátrio etc.

5. Essa indiferença absurda e terrível chegou ao paroxismo no show do Antony and the Johnsons, que tentei ouvir duas vezes na mesma noite, sem sucesso em nenhuma das tentativas. O respeitável público não deixou.

Já que a música parece tão desimportante para essa audiência surda, acho que os bem-intencionados organizadores do festival poderiam, nos próximos anos, simplesmente fornecer a estrutura e, no lugar dos shows, projetar nos palcos imagens do público e suas vozes amplificadas.

6. Talvez pelo volume do som, o único show que vi e que não foi atrapalhado pela turba foi o do The Killers, de Las Vegas. A banda dândi, liderada por um mórmon de bigodinho, é tão grandiloqüente e cafona, que me faz pensar que se trata do Asia dos anos 00. (Alguém aí sabe o que é o Asia, ou estou, mais uma vez, falando sozinho e comigo mesmo?).

De qualquer forma, o Killers, que só tem dois discos, fez um show que parecia uma coletânea de sucessos em clima de comoção: uma moça ao meu lado chorou durante o concerto inteiro, jovens senhores berraram as letras em macarrônico inglês e voltaram para casa roucos e banhados de cerveja.

7. O Lasciva Lula, banda que possivelmente faria o melhor show do Tintim Festival deste ano, não pode acabar. Visite o site (www.lascivalula.com.br), ouça as músicas e incomode o quarteto.


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Bom, não conheço o Lasciva Lula, mas a coluna traz ótimos instantâneos das terras de São Sebastião...

2 comentários:

Anônimo disse...

So faltou uma analise. Gostou?

Anônimo disse...

parece claro anônimo, não?!