Madalena-Recife (lan house perto do Cecosne), hoje 13:53:
"Caba bom, já já chego aí, pra deixar os dente na maresia até enferrujar feito aro de bicicleta véia."
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Ferrugem dos dente (notas de chegança III)
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Pernoite limpezinha (notas de chegança II)
Carmo-Olinda, domingo 25/11 21:12:
"O bagulho é louco, o processo é lento e o delegado é noiado. Na limpezinha sem comédia, num pode passar das zero hora, é a pernoite."
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Caxangá (notas de chegança)
Ouro Preto-Olinda, sábado 24/11 16:34:
"Conclui Direito na Católica, tenho especialização em Penal, agora tô fazendo outra pós e inglês em cursinho, todo esse currículo, mas meu namorado mora na Mustardinha."
domingo, 25 de novembro de 2007
Súplica da natureza - notas dominicais XXVIII
"A natureza não me disse: 'Não seja pobre'. Nem disse: 'Seja rico'; mas me implorou: 'Seja independente'."
Chamfort, Máximas (1795)
sábado, 17 de novembro de 2007
Maurícia Vila Morena - notas dominicais XXVII
Há quanto tempo que não te vejo!
Não foi por querer, não pude.
Nesse ponto a vida me foi madrasta,
Recife.
Mas não houve dia em não te sentisse dentro de mim:
Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,
Recife.
Não como és hoje,
Mas como eras na minha infância,
Quando as crianças brincavam no meio da rua
(Não havia ainda automóveis)
E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas
(Continuavas província, Recife)
Eras um Recife sem arranha-céus, sem comunistas
Sem Arraes, e com arroz,
Muito arroz,
De água e sal,
Recife.
Um Recife ainda do tempo em que o meu avô materno
Alforriava espontaneamente
A moça preta Tomásia, sua escrava,
Que depois foi a nossa cozinheira
Até morrer,
Recife.
Ainda existirá a velha casa senhorial do Monteiro?
Meu sonho era acabar morando e morrendo
Na velha casa do Monteiro.
Já que não pode ser,
Quero, na hora da morte, estar lúcido
Para mandar a ti o meu último pensamento,
Recife.
Ah Recife, Recife, non possidebis ossa mea!
Nem os ossos nem o busto.
Que me adianta um busto depois de eu morto?
Depois de morto não me interessará senão, se possível,
Um cantinho no céu,
"Se o não sonharam", como disse meu querido João de Deus,
Recife.
(Recife, poema de Manuel Bandeira)
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
O rei está nu!
A carapuça do rei
Luís Carlos Lopes
É estranha a sobrevivência de algumas antigas instituições que têm uma história lamentável. A maior parte das monarquias foram, há muito tempo, depostas. Quase sempre, mais ou menos pacificamente, tal como ocorreu no Brasil de 1889. Entretanto, alguns monarcas perderam suas cabeças. Um dos casos recentes e rumorosos é o do tsar russo, fuzilado na nascente União Soviética, junto com toda sua família. Por lá, fez-se quase o mesmo que os ingleses fizeram no século XVII e os franceses, no final do XVIII. O escândalo desta execução contemporânea, ainda ressoa, como um dos fantasmas da quase centenária revolução bolchevique.
A palavra de ordem ‘Morte ao Rei’ era um elemento de mobilização liberal, revolucionária e popular no século XIX. As monarquias impediam reformas e revoluções, seguravam a história e a manutenção dos seus privilégios. Aliavam-se, na fase absolutista e na constitucional, com as elites no poder. Os reis da Itália e da Espanha aliaram-se ao movimento fascista, a partir da década de 1920. O rei do Japão fez o mesmo com os peculiares fascistas japoneses. As burguesias destes países não viram qualquer problema em preservar e alimentar estas velhas instituições, baseadas no poder hereditário. Elas eram símbolos da conservação.
No caso inglês, a maior parte da nobreza inglesa manteve-se, na era do fascismo, leal à Inglaterra e ao poder liberal. Isto foi feito, sem jamais abdicar das benesses do poder e de posições sociopolíticas profundamente conservadoras. A monarquia britânica, com toda a sua história passada de horror, escravidão e poder, nunca deixou de simbolizar seu passado de opressão dos povos coloniais e de soberba neocolonial, mesmo a partir das últimas décadas do século XX. A decrepitude desta instituição mantém-se como um signo. Este impede qualquer avanço, além dos limites impostos pelos atuais donos do poder. Passado e presente sentam junto à mesa e comem o mesmo banquete. O principal prato servido é o da dominação, como nos tempos imemoriais de onde vieram.
A idéia de república inflamou o coração de muitos na Espanha e nos demais países da década de 1930. Não foram poucos, os jovens de toda parte que rumaram para lá, lutaram pela liberdade, pela república e pelo socialismo. A derrota da causa republicana, as manutenções fascistas da monarquia e do poder clerical significaram um retrocesso que custou a vida de pelo menos um milhão de pessoas. A Espanha precisou aguardar meio século para se modernizar e, ainda hoje, respira um pouco deste passado. É verdade que o rei Juan Carlos não abraçou a idéia franquista de continuar o regime, em meados da década de 1970. É, outrossim, verídico que se ele não tivesse assim procedido, o fascismo espanhol teria inevitavelmente caído, talvez, com a abolição da velha monarquia local.
Nas mídias das atuais indústrias culturais, as nobrezas reais voltaram à moda. Têm sido feitos filmes que lembram do glamour das monarquias e ‘esquecem’ do horror social que representavam. Vários reis e rainhas depostos, ou ainda no poder, transformaram-se em celebridades póstumas ou atuais. As mídias continuam a falar dos ‘prodígios’ da nobreza, do seu fausto e, igualmente, dos seus incontáveis e pavorosos escândalos. Ao que parece, pelo mundo afora, pertencer às linhagens nobiliárquicas é também ser uma ‘persona midiática’, muito semelhantes aos membros do ‘star system’ contemporâneo. Eles continuam a viver da superficialidade, do dinheiro fácil, da fama conseguida nas mídias e, sobretudo, das alianças políticas com as forças da ordem.
O curioso é que Chávez falou de Aznar, político espanhol de inspiração fascista, mas foi o rei da Espanha que mandou que se calasse. Chávez lembrou que tem a legitimidade do voto, por mais que seja um pouco espalhafatoso e não tenha papas na língua. É certo que Chávez não falou no momento e lugar adequado, tendo sido pouco diplomático. Entretanto, qual é a legitimidade do El-rey mandar um chefe de Estado mestiço e atual, calar a boca? Passado e presente se encontraram, juntando a comédia à tragédia de sempre.
In: Carta Maior
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Dr. E. em desespero
Tem jeito não. Nem fim. Só com o descanso eterno ou com o final dos tempos. É trabalho chato até uma horas, dor de cabeça, de amor, aluguel, fraqueza nas pernas, no juízo... certo tava o velho Graça: vida=angústia. Agora é a vez do trabalho (ruim com ele, pior sem ele) apertar este estranho arremedo de editor-escritor. Aos frequentadores deste pergaminho eletrônico peço licença e compreensão para um ligeiro sumiço. A ôia tá pesadíssima e deve durar até a próxima semana. Mas, não deixem de aparecer, prometo volta triunfal, tal qual um Ulisses do Arruda com fome de tudo...
domingo, 11 de novembro de 2007
Originais do sonho - notas dominicais XXVI
"Nunca é tarde pra sonhar, mas isso quando se pode dormir."
Verso de Originais do sonho, faixa do Fome de tudo, disco novo da Nação Zumbi.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Antropologia lírica do xêro
E quem disse que só de ignorância vive os trópicos?! O cronista Xico Sá (foto), qual um Gogol do miserê, acerta a mão e mete o nariz no costumbre que é puro lirismo nordestino...
Clique aqui e veja todo o requinte da civilização esquecida por Deus e pelo capital internacional.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
A fome de tudo da periferia
A fome de tudo da periferia devora Oswald de Andrade e seus afilhados. E o banquete está servido: esta semana rola em São Paulo a Semana de Arte Moderna da Periferia - Antropofagia Periférica, evento promovido pela Cooperifa – Cooperativa Cultural da Periferia. Ainda dá tempo de dar uma passada por lá - é de 04 a 10/11. A programação (com horários e locais) está neste link. Quem puder, acho que vale a pena dar uma fuçada nas exposições, mostras de vídeos, shows e apresentações. Abaixo segue o manifesto fodíssimo do evento escrito pelo poeta Sérgio Vaz, idealizador da função.
Manifesto da Antropofagia Periférica
Sérgio Vaz
A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula. Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do "ter ou não ter...". Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? "Me ame pra nós!".
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
É TUDO NOSSO!
terça-feira, 6 de novembro de 2007
João Paulo Cuenca strikes again!
E não é com o Dia Mastrorianni, seu segundo romance recém saído do forno da editora Agir e que este editor ainda não leu - se manter a pegada do Corpo presente, continua maravilha; mas sim com sua coluna publicada hoje (que já é ontem enquanto posto) no Megazine (caderno juvenil) d'O Globo. Num é que o menino parece que tá acertando a mão nas crônicas?! Leiam e digam:
Tintim Festival e outras estórias
1. Uma vez por ano, um grupo de artistas da região metropolitana do globo aporta em terras periféricas. Nos subúrbios iluminados do planeta, nababescos picadeiros são erguidos especialmente para o festival de música, realizado em torno de uma plêiade internacional eleita por seitas secretas em rituais ainda mais secretos.
Dias depois, a sede cosmopolita dos habitantes desse povoado distante estará saciada — até a próxima grande atração estrangeira, também patrocinada por algum conglomerado multinacional.
2. Postados ao redor de uma praça na cidade do interior, os palcos que recebem tão prestigiosas atrações normalmente têm a lotação esgotada, apesar do estratosférico preço dos ingressos — que podem ser bastante mais caros do que os da metrópole.
Mas o que é um par de cobres perto da glória terrena? Durante dois dias, a praça do festival se transforma no centro nervoso da intelligentsia e elite locais, onde se reúnem os filhos dos capitalistas da província, seus trovadores, poetas, bobos da corte, estudantes, periodistas, damas de honra — e de companhia. Todos vestidos com roupa de missa no feriado.
3. O que causa espécie aos forasteiros que convivem com esse aglomerado humano tão especial é que, se todos pagaram caro para ter acesso aos palcos da quermesse, a maioria não está exatamente preocupada com o que se passa por cima deles.
Os espetáculos e seus performers estrangeiros são figuras secundárias ao lado de tão influentes presenças locais. Durante as apresentações, a selecionada platéia não pára de olhar sobre os ombros, se lamber com a vista, desfilar suas belezas e falar e falar — especialmente quando nada há a dizer.
4. No esperado show da Björk, durante as canções mais atmosféricas, este observador, que estava ali, na meiúca da muvuca, pôde testemunhar o murmurinho incontrolável.
Olhei ao meu lado e vi: a consagrada coreógrafa, o crítico musical paulistano, a atriz sub-18, o diretor de TV e seus figurantes de camisa justa, os formadores de opinião do balneário, e eles não paravam de ruminar palavras sobre palavras, como se precisassem da música para se esquecer da música. A atração no palco é coadjuvante desse espetáculo.
O brasileiro é a musa de si mesmo. Todos nós, na voluptuosa platéia, éramos infinitamente mais relevantes do que a pobre islandesa que se esgoelava no palco. A pequena só ganhava a atenção e as palminhas da turba quando dizia um desastrado “obrigado” — em português, “ooohs!” de admiração e orgulho pátrio etc.
5. Essa indiferença absurda e terrível chegou ao paroxismo no show do Antony and the Johnsons, que tentei ouvir duas vezes na mesma noite, sem sucesso em nenhuma das tentativas. O respeitável público não deixou.
Já que a música parece tão desimportante para essa audiência surda, acho que os bem-intencionados organizadores do festival poderiam, nos próximos anos, simplesmente fornecer a estrutura e, no lugar dos shows, projetar nos palcos imagens do público e suas vozes amplificadas.
6. Talvez pelo volume do som, o único show que vi e que não foi atrapalhado pela turba foi o do The Killers, de Las Vegas. A banda dândi, liderada por um mórmon de bigodinho, é tão grandiloqüente e cafona, que me faz pensar que se trata do Asia dos anos 00. (Alguém aí sabe o que é o Asia, ou estou, mais uma vez, falando sozinho e comigo mesmo?).
De qualquer forma, o Killers, que só tem dois discos, fez um show que parecia uma coletânea de sucessos em clima de comoção: uma moça ao meu lado chorou durante o concerto inteiro, jovens senhores berraram as letras em macarrônico inglês e voltaram para casa roucos e banhados de cerveja.
7. O Lasciva Lula, banda que possivelmente faria o melhor show do Tintim Festival deste ano, não pode acabar. Visite o site (www.lascivalula.com.br), ouça as músicas e incomode o quarteto.
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Bom, não conheço o Lasciva Lula, mas a coluna traz ótimos instantâneos das terras de São Sebastião...
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Regimento russo
- Quer dizer, capitão Raskólnikov, que a tropa debandou?
- General Fiódor, ela nunca teve gana de vencer.
- E por que afirmas isso, capitão?
- Os soldados eram incapazes de abrir mão de suas vidas, general! Todos iguais! Tal como aquele antigo regimento alemão de Starkhaus. Bravatear, eis o que só sabem fazer! Na hora do vamos ver, se comportam como burgueses de merda...
- Mas, soube que você estava abusando com suas provocações e desmantelos. Gastar dinheiro com raparigas depois da Revolta de Kronstadt, foi uma ousadia perigosa... Aliás, sua fama de raparigueiro já ultrapassa os limites de São Petersburgo!
- General, a mim só interessa a revolução.