quarta-feira, 25 de julho de 2007

Já, de volta a ativa! (e virado no mói de coentro!)


Enfim, salvo! Artigo pronto e cá estou de volta ao cultivo desta propriedade, minha única por sinal. Não foi fácil, ainda mais que o tema que escolhi para escrever o tal texto não dispunha de muita bibliografia. O assunto? Ah, fiz um arrodeio medonho pra mostrar que idéias futuristas em cenas culturais periféricas funcionam como um mecanismo de transcendência da miséria(!). Acreditem, escrevi sobre isso. Disponibilizarei aqui assim que o livro que ele fazerá parte for lançado (e também quando achar alguma forma de publicar arquivo word na web, coisa que consegui apenas através do 4Shared, mas essa ferramenta estipula um prazo de disponibilidade e depois do seu vencimento, só depositando uns caraminguás na conta dos caras, senão o material expira. Foi o que ocorreu com o meu currículo e com alguns artigos que coloquei neste blog, como vocês já devem ter percebido - algum leitor saberia informar uma solução? Desde já, minha mais sincera gratidão).

Mas, voltando a “volta”, não foi dessa vez que a degola das obrigações ceifou o pescoço desse estranho doutor. Mesmo com um cansaço de Hércules pós-12 trabalhos - pois além do artigo, montei nos últimos dias os exemplares definitivos de minha tese para a biblioteca da universidade (trabalho do cão! 739 páginas, 3 tomos e logo logo um link aqui!) -, sinto-me com os poderes revigorados, com uma puta larica de vida e doido pra voltar ao mundo, "pra estraçaiá!", como na cartilha-nocaute do imbatível Todo-Duro - é o fraco???!!! Em outras palavras, é o Dokstrange virado no mói de coentro! Ainda bem que amanhã tem show da Nação Zumbi (Circo Voador, maiores informações aqui) pra gastar a freqüência...

Bom, pra sair do umbigo, segue abaixo uma crônica do Veríssimo que eu queria ter publicado na semana passada, mas a lida não permitiu. Ainda sobre as vaias do Lula. Recado para o coro dos que acreditam cegamente na nossa grande imprensa e para o coro dos que sentem mais prazer do que dor com os atropelos do governo (aliás, são praticamente o mesmo coro). Sai com atraso, mas cheia de carinho, Dr. E.
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Cumplicidade*

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a "guerra de mentira" que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo. A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo - inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se, sem fazer perguntas, ao seu ideal, que em muitos casos nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade. Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se esses dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

*Crônica publicada no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 19 de julho de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

"com uma puta larica de vida" - sei bem o que e isso, amigo!!!! Bom lhe ter volta. Como precisamos de gente articulada e inteligente. qunado receber o filmes me avise.