"Eu vivo em estado de celebração quando penso em você, e eu sempre estou sempre em você. E pensar em você não pode me fazer sentir mal. Eu nunca me senti sujo. Eu andei pelo subsolo dessa cidade com as figuras mais absurdas, entrei em ruelas, becos, desci escadas apertadas embaixo da terra, pisei descalço em poças imundas, mas eu nunca, nunca, me senti sujo, porque eu estava com você, de uma forma ou de outra. Como se você fosse um tipo de entidade, logo eu que sempre nunca acreditei nessas merdas, Carmen.
Você me segue, eu sei. E de algum jeito ou de outro, você acaba sentindo tudo. Tá no ar, meu amor, e você capta. Não precisa se preocupar. Nunca nenhuma mulher me fodeu como você. E você nunca fodeu como nenhuma delas. Mas isso não importa, Carmen. Nunca importou.
Você percebe que a única categoria de infidelidade realmente existente é a autocometida? No limite, eu só devo fidelidade a uma pessoa. Eu preciso ser sincero comigo mesmo - não posso continuar escondendo coisas de mim. Eu não quero continuar mudando de assunto e driblando pensamentos, ninguém precisa disso. Eu não posso continuar me sabotando. E não há quem me obrigue a não ser sincero. Não pode haver. Eu não preciso do medo de pensar até o limite sujo e viscoso da minha consciência. Eu quero ir além, eu quero ir até onde eu não puder mais e, se você quiser me dar a mão e perder o medo, eu estou aqui, eu vou sempre estar, Carmen."
(trecho do romance Corpo presente, obra de João Paulo Cuenca)
domingo, 22 de julho de 2007
Auto-sabotagem - notas dominicais XI
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