- Quando você fala sobre as coisas, a menos que seja um poeta, algo que é grande se torna menor.
Concluiu o tio David, encerrando uma discussão que já se estendia por mais de hora e meia após o jantar. Zeev, que ensaiava suas primeiras opiniões como debutante na vida adulta, ao ouvir as palavras do parente estimado, calou-se imediatamente. A frase penetrou em seu cérebro de forma encantadora e, ao mesmo tempo, tenebrosa.
Passaram-se dias, semanas, meses e o silêncio colhido pelo sobrinho desde aquela noite insistia em não largá-lo. A família começou a ficar preocupada. Ninguém sabia a razão da mudez tardia do ex-adolescente. No entanto, ao completar o quarto mês de completa ausência vocal, ele resolveu falar. Numa voz embargada pelo desuso, confessou a todos o seu temor de não ser fiel às grandezas da vida, de não traduzir dignamente tudo o que sentia. Como se seu olhar e seu sentimento não lhe bastassem.
Zeev morria de medo de tornar o mundo menor. Zeev morria de medo de não ser poeta.
*(continho publicado originalmente no extinto site Mote)
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Medo*
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2 comentários:
todos nos temos esse medo...eu pelo menos tenho.
o que importa é o exercício da expressão. não é poeta? sem medo de ser feliz!
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