- E aí meu irmão, como tão as coisas?
- Meio fudido, brou. Tô sem trabalho, separando do casamento e, pra completar, meu analista diz que eu sofro de um mal chamado "fixação identitária".
- Nossa! Que dureza, hein?! Mas vem cá, esse negócio de "fixação identitária" não é mais um diagnóstico de moda psicanalítica não?
- O pior é que eu desconfio que não.
- Mas afinal, o que é isso?
- Não sei explicar direito não. Antigamente, quando o mundo era mais organizado, quando vivíamos sob a égide da razão, isso era o mesmo que ser coerente, algo próximo de ter retidão. Era o que fazia as amizades durarem longos anos e os relacionamentos a eternidade. Hoje em dia, como ninguém precisa mais dessas coisas, transformou-se num problema.
- E o que esse problema pode acarretar?
- Dizem que dá câncer. Eu, por enquanto, só tenho essa dermatite no rosto, aqui ó, tá vendo?!
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Dermatite Seborréica
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Projeto (merda) de Lei
Essa semana começa uma mobilização contra um projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB - MG) que impõe muitas restrições à liberdade da Internet brasileira. Repasso mensagem do colega Mario Teza, guerreiro do software livre.
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Colegas,
A semana que começa pode trazer novidades negativas quanto ao assunto projeto de lei do senador Azeredo. As iniciativas do referido senador são para votar rápido o seu projeto, sem audiência pública, sem debate sincero. Por isso, vamos começar uma grande campanha virtual. O portal PSL-Brasil, a Safernet, a RITS, o CDI-Pe, o INDECS estão convidando outras entidades, ongs, sindicatos, empresas, veiculos de comunicação, provedores de acesso e conteúdo, a somarem na Campanha:
"Não ao Totalitarismo na Internet no Brasil!"
Nesse sentido está sendo preparado um abaixo-assinado eletrônico com uma meta bastante ambiciosa, um milhão de assinaturas. O texto será totalmente baseado na nota da FGV publicada no portal do PSL-Brasil.
Se você participa de um PSL, ou conhece uma entidade, analise nossa idéia. Ainda temos tempo para novas adesões antes do lançamento. Escreva-me em privativo (mlteza@softwarelivre.org) com o nome do PSL ou entidade. Sabemos que nossa meta de 1 milhão de assinaturas é muito difícil de ser atingida. Mas algo nos diz que teremos surpresas quando começarmos a coleta.
Mario.
domingo, 27 de maio de 2007
Rizoma - notas dominicais III
"Tudo aquilo que pode ser destruído, deve ser destruído, para que as crianças sejam salvas da escravidão."
frase do situacionista Raoul Vaneigem só pra avisar que, depois de um período fora do ar, o site Rizoma voltou a funcionar na web!
Êba, é nóis!!!...
sexta-feira, 25 de maio de 2007
A assistente
Completamente sem jeito, foi obrigada a lhe dizer:
- Estamos nos dois últimos minutos do derradeiro rolo de filme.
- Porra! E só agora tu vem me avisar isso!
- Foi a única brecha que tive no meio dos seus gritos.
- Brecha o caralho! Você nunca se pronuncia e quando fala é pra dizer essa merda!
- Sinceramente, eu pensava que você estava ciente da situação e só resolvi falar porque o negócio já estava nas últimas.
- Ciente um culhão! Assistente de bosta... você é uma bosta, ouviu?!
Depois desta última frase, pegou rádio, prancheta, ponto, boné, enfim, todos os apetrechos de sua função, jogou-os violentamente no chão e correu em disparada.
Há notícias de que foi morar em Salvador e mudou de vida.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Ponto de Parada
Tio,
recebi seu livro ontem a noite. Do que vi e li (algumas crônicas, na verdade, já conhecia), o bom gosto me chamou a atenção. O prefácio, os agradecimentos (a criação sempre será um ato coletivo!), o poema do Bandeira (volta e meia penso nele em meu exílio carioca - o "gatilho" do retorno vive eternamente puxado), a introdução e, sobretudo, a orelha com aquela passagem da experiência de nossa condição familiar diaspórica: recepção, flexibilidade e tradição. Penso que essas três coisas bem misturadas resultam numa sabedoria antropológica indubitavelmente salutar - isto é o que se pode chamar de saúde cultural! (roubo a expresão de Caetano Veloso acerca de Jorge Ben)
Das crônicas que (re)passei o olho, o trecho de um parágrafo me comoveu enormemente:
"Existem dois tipos de heróis: existem aqueles que se tornam heróis porque praticam um ato dramático, trágico ou incisivo de heroísmo num momento particularmente intenso e, desse modo, se consagram e são consagrados, recebem as láureas da fama e as medalhas da glória; mas existem pessoas que diluem o seu heroísmo ao longo da sua vida, na rotina do dia a dia, na capacidade silenciosa para suportar o sofrimento e a renúncia, para impor a sua coragem e obstinação de um modo próprio, coerente. São o que eu chamaria de heróis da rotina. O seu 'defeito' é que possuem uma vocação para a grandiosidade que nem aparece direito, pois a modéstia e a humildade são, igualmente, características suas e impregnam de tal modo os seus atos mais importantes, que chegam a lhes dar a aparência das trivialidades. São pessoas que se parecem, em tudo, em quase tudo, com pessoas comuns (e na verdade são pessoas comuns), porém contêm a fímbria dos fortes, pertencem a uma estirpe superior."
(em "Adeus, suave Raquelzinha")
Qualquer comentário meu do que foi dito acima, tornaria sua interpretação de herói - já tão bem escrita - menor. Esta crônica me alimentou ainda mais o ânimo para a leitura.
Por fim, a capa. De antemão lhe confidencio que não gosto de definições identitárias - acho-as constantemente essencialistas e limitadoras. Mas quando me perguntam o que sou, brinco, tencionando com a verdade, que sou antes de tudo da zona norte de Recife - Encruzilhada, Arruda, Água Fria, o extinto e aqui reverenciado Ponto de Parada... Lembra que foi nesta região, bem perto da fábrica Irmãos Azoubel, que meu pai e sua irmã construíram casa? Vivi nela os meus primeiros dezeseis anos de vida. A fábrica era como se fosse uma extensão do nosso quintal nuclear, eu, meus irmãos e primos, passávamos lá diversas tardes durante a semana. Tanto texto que gasto aqui é para tentar lhe traduzir meu encanto ao ver a foto da capa com o chafariz "menino-mijão sentado no globo" que ficava no jardim da velha fábrica. O mais proustiano (ou seria José Lins?) dos abre-alas, meu tio!
Vou parar por aqui, pois a labuta me chama. Agradeço e parabenizo o senhor pelo trabalho feito com tanto carinho - esse sentimento está explicito em cada pedacinho de papel do livro. Muito me emocionou também ter recebido o envelope que guardava o danado e verificar a procedência ribeirão-pretana, quanto esmero...
Mais uma vez, gratíssimo.
sábado, 19 de maio de 2007
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Medo*
- Quando você fala sobre as coisas, a menos que seja um poeta, algo que é grande se torna menor.
Concluiu o tio David, encerrando uma discussão que já se estendia por mais de hora e meia após o jantar. Zeev, que ensaiava suas primeiras opiniões como debutante na vida adulta, ao ouvir as palavras do parente estimado, calou-se imediatamente. A frase penetrou em seu cérebro de forma encantadora e, ao mesmo tempo, tenebrosa.
Passaram-se dias, semanas, meses e o silêncio colhido pelo sobrinho desde aquela noite insistia em não largá-lo. A família começou a ficar preocupada. Ninguém sabia a razão da mudez tardia do ex-adolescente. No entanto, ao completar o quarto mês de completa ausência vocal, ele resolveu falar. Numa voz embargada pelo desuso, confessou a todos o seu temor de não ser fiel às grandezas da vida, de não traduzir dignamente tudo o que sentia. Como se seu olhar e seu sentimento não lhe bastassem.
Zeev morria de medo de tornar o mundo menor. Zeev morria de medo de não ser poeta.
*(continho publicado originalmente no extinto site Mote)
segunda-feira, 14 de maio de 2007
domingo, 13 de maio de 2007
Achaques clariceanos - notas dominicais II
"Também hoje à noite a escuridão é profunda, minha respiração é difícil. No meu sono pesado e inquieto, luto com um demônio de cada vez."
Parágrafo de Kitchen, livro de novelas de Banana Yoshimoto - faz uma espécie de literatura pop japonesa. Leitura da semana.
Esse postinho vai para minha mãe, pelo seu dia, pela sua dor.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
O resgate do Moustache
Esta semana estava vasculhando meu estranho baú e entre textos, fotos etc., encontrei um folheto escrito há quase 10 anos pelo polemista mundialmente famoso Bob Moustache, também conhecido como Bigode de França. E apesar do tempo, confesso que fiquei incrível com a atualidade da prosa da “aima”, sobretudo diante dos recentes acontecimentos no mundo da cultura nacional, onde secretário de cultura de Estado voltou a decretar o que deve ser ou não considerado como cultura popular (cadê o povo do adjetivo?!) e crítico de jornal passou a se julgar dono do samba (decidindo quem pode ou não falar do democrático ritmo). Como diria Eustrácia, a égua falecida do meu compadre lá de Pau-Amarelo Beach: “agora fodeu a tabaca de Xôla!”
Com vocês, concordando ou não, a verve do velho Bigode:
Glauber, mangueboy avant la lettre
Por Bob Moustache
Talvez por causa do legado da militância comunista de outrora, não costumo atribuir as coincidências qualquer conotação espiritualista. Mas que elas existem, nem o mais cético dos homens poderia duvidar. Outro dia me ocorreu uma que fez lembrar o meu velho e combalido (pero sempre decente!) Pernambuco.
Numa bela tarde de outono, andava eu pelas ruas do bairro de Botafogo, terra de São Sebastião, com destino ao Tempo Glauber – local onde se encontra o arquivo do cineasta – pra fazer uma pesquisa. No meio do caminho, parei diante de uma banca de revistas onde avistei uma publicação que trazia na capa a foto de Ariano Suassuna, anunciado como o mais legítimo dos brasileiros. Ri do tom um tanto sensacionalista da chamada, mas confesso que só não levei a danada porque tava liso.
Chegando no Tempo Glauber, ao abrir a primeira pasta com recortes de jornais, eis que encontro uma matéria publicada n’O Globo em fevereiro de 1977 (pasmem, eu escrevi 1977!) na qual trazia o seguinte depoimento do homem que pôs a Terra em transe:
“Se você pensar bem, o folclore – de uma maneira geral – é uma coisa muito reacionária, até servil. Você vê que em muitas manifestações folclóricas de origem africana, como surgiram no tempo da escravidão (o Brasil foi um dos últimos países do mundo a libertar seus escravos), trazem muito forte a marca da servidão, de cantar e dançar e contar histórias para divertir os senhores. Mesmo depois da escravidão, esse traço continua muito forte. Como no candomblé para turista, como na escola de samba. Não é coisa de ter gente de fora ou de mais ou de menos ou de ‘autenticidade’, é alguma coisa mais grave – como uma genuína manifestação popular, que tem suas origens na arte negra, buscar seus modelos na História Branca do Brasil, com raras exceções. Aquelas roupas ‘da Corte’, a cabeleiras brancas, tudo fica desagradavelmente ligado a uma idéia de (desnecessária) frustração, de querer ser como eram os senhores, de divertir a classe média – onde estão os novos senhores de novas formas de escravidão. Mas eu acho que está, que vai inevitavelmente mudar, que as escolas vão buscar cada vez mais temas e estruturas ligados a riquíssima origem afro-brasileira da celebração, em que podem participar brancos, pretos e mulatos preocupados em viver sua própria alegria que satisfazer as expectativas de uma platéia.” (O Globo 17/02/1977)
Nada mais óbvio que as palavras do cineasta tenham imediatamente me remetido ao personagem da banca de revistas. De bate-pronto pensei nos propósitos do movimento Armorial (espécie de cosmética da fome - salve Ivana Bentes no sample do próprio diretor! - que enganou elite e classe média acadêmica do Recife e alhures) de refinar(?) a cultura popular para o consumo esclarecido (diversão das tais classes). Lembrei também das polêmicas que atravessaram os anos 90 recifenses envolvendo o próprio Ariano e a geração Mangue, controvérsias que o secretário, talvez por preguiça ou desleixo, parecia querer resolver através de uma mera questão lexical (Science ou Ciência?). O rol de pensamentos poderia se desenrolar aqui infinitamente, o que comprova a pertinência e a atualidade do texto de Glauber. Aliás, Glauber que sabia tudo de cinema e de política, com seu terceiro-mundismo internacional ou, para usar a feliz expressão da vez, com seu cosmopolitismo periférico(Ângela Prysthon, dois salves!), foi um verdadeiro mangueboy avant la lettre...
*(reparem o chapéu-coco da foto do post! diz o conversador lá de França que era da mesma marca do de Chico Science)
terça-feira, 8 de maio de 2007
Boa escolha (Machado's sample)
Depois de ter lhe escutado pacientemente falar por quase duas horas sobre todas suas angústias e medos, sobre sua condição de mulher já avançada na idade (mais um exagero), sobre todas as implicações que um relacionamento amoroso poderia engendrar e, sobretudo, sobre sua falta de segurança na opção do pretendente, a amiga virou e lhe disse:
- Basta amar para escolher bem. Ao diabo que for será sempre boa escolha.
domingo, 6 de maio de 2007
A estação da Guanabara - notas dominicais I
Tenho alguns amigos fotógrafos e cineastas os quais prezo muito.
Volta e meia eles conversam sobre a luz, assunto do qual sei pouco.
Das luminosidades confidencio:
Só reconheço o outono do Rio.
E sobre a estação carioca revelo um outro segredo:
Não tenho a menor pretensão em ser poeta (substantivo condenado da língua),
mas se um dia conseguisse transformar em palavras tal esplendor,
atenderia, sem maiores pudores, pelo tratamento.
(Rio, primeiro domingo de maio, outono 2007)
sexta-feira, 4 de maio de 2007
A topada como bálsamo para a alma
Outro dia ouvi um músico baiano famoso, cheio de colete, declarar que usava óculos escuros como um escudo para alma. Além de bloquearem os raios solares, os óculos serviam para o distinto artista como uma espécie de filtro contra as energias negativas que pairam no mundo dos homens.
Com meus estranhos botões, penso na existência de outras formas mais eficazes de proteção como, por exemplo, ser alguém destituído de charme. E quanto menos, maior é a guarita. Veja bem, a pessoa sem charme está fora da mira dos olhares alheios, o que, com certeza, já a livra de um percentual significativo da suposta “carga pesada” diagnosticada pelo músico. Além disso, é claro, tal característica oferece infinitamente mais liberdades. A pessoa sem charme pode levar quedas de escorregão, bicicleta, patinete ou rolimã, tirar catota do nariz, cera do ouvido, entre outros privilégios, tudo isso sem despertar a atenção dos passantes – e muito menos da indústria cultural, essa senhora sempre ávida pelos espíritos. A pessoa sem charme não carece de fechar o seu corpo nem de chamar o Tranca-ruas, anda de portas e janelas abertas, cabelos ao vento, sem ninguém lhe fulminar os tais agouros.
Livre dos olhares sedentos, a pessoa sem charme, no entanto, não consegue se desfazer completamente das atenções. É o caso, por exemplo, de quando ela leva uma topada. Mas aí é a sua sagração, ato que, entre outros efeitos, a constitui como a mais desarrumada das criaturas - logo, a mais inatingível (salvo pelas calçadas, batentes e coisas do gênero). A topada é o soluço do corpo inteiro que a projeta na direção de sua ignorada e inabalável tranqüilidade futura (carái!!). É o melhor dos “elásticos” - falo do drible - na arrumação, no conforme, no óbvio e na pretensão, tudo isso na mesma arrancada. Só uma topada é capaz de aniquilar de vez o que uma pessoa pode carregar de charme e arrogância. Aliás, a topada é o grau-zero da arrogância...
Ps.: Não poderia esquecer de fazer menção ao grande Genival Lacerda que imortalizou o tema no xote-trocadilho “A topada da menina”. Esta croniqueta é inteiramente dedicada ao nosso Rei da Muganga, de quem esse editor é discípulo desde pirraia.
Ps.2: E antes que me perguntem pela rg do artista, aviso-lhes que “guardarei nesta folha as regras boas, que é dos vícios falar, não das pessoas”... - o periódico-caçula aqui sempre dropando na sábia moral do velho e bom O Carapuceiro.
terça-feira, 1 de maio de 2007
Bem-vindo ao mundo Estranho...
Depois de amigos, parentes, personalidades e toda sorte de gente engarrafarem o ciberespaço, lanço a pergunta da clássica piada-Juquinha (quantos anos a enfant terrible teria hoje?) escutada na infância do Arruda, Encruzilhada e adjacências*: "e tem lugar pro meu jipinho?" Pois parece que tem, sopra a velha voz misteriosa. Foi no seu bafo, portanto, após hesitações e queijandos tantos, que surge agora o blog do Dr. Estranho - este mesmo que vos aluga nestas mal-traçadas.
Sem muito arrodeio, a intenção da página é funcionar como um misto de homepage pessoal, disponibilizando permanentemente currículo, textos publicados etc. (localizados no lado direito da interface), e blog clássico, com atualizações frequentes(!) de textos literários e/ou informativos, fotos, vídeos, entre outros atrativos do mundo www.
Visitem, estranhem, comentem e, se for do agrado, reapareçam!
*Para os que não conhecem a zona norte do Recife, vai a nota de rodapé com o melhor de todos os guias:
Jornal da Palmeira de Erasto Vasconcelos (Candeeiro Records, 2005), sensacional tradução contemporânea da África recifense. Maiores informações aqui