segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Certa manhã acordei pra (não) escrever...

Faz é tempo que tô querendo passar por aqui e contar das coisas que recentemente vem alimentando o espírito desta carcaça tão estranha quanto o mais comum dos homens.
Pois bem, poderia discorrer sobre a beleza que é Loki, o documentário sobre Arnaldo Baptista, e sobre a pancada que é Anticristo, mais uma obra-prima do dinamarquês Lars von Trier. Isso só pra ficar nesse negócio de cinema, essa arte cara, conforme bem diagnosticou o taperoaense Ariano Suassuna.
Na música, soltaria o verbo e rasgaria a ceda sobre 3 trabalhos recentes: Uhuu!, do Cidadão Instigado; Dança da Noite, de Zé Cafofinho & Suas Correntes (o universo de rua do velho Recife nas suas fuleiragens e safadezas - esse ainda devo uma resenha!); e o visceral e fuderoso (e não teria outros adjetivos tão ao nível do) Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, do galego Otto.
Mas acreditem, mesmo com tanta sustância, ainda não será desta vez que gastarei um tantinho de prosa sobre essas maravilhas - é que ando numa fase venha a nós, ao vosso reino ofereço apenas minhas recomendações que, acreditem, não são fracas... Mas se não escrevo eu, que escrevam os outros! E essa ladainha toda é só pra divulgar a crítica publicada hoje nas folhas dos Frias sobre o último disco citado acima. É dor, inferno, coração e salve!

Em meio ao caos, cantor encontra equilíbrio
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Fosse um inseto, como sugere na referência a "A Metamorfose", Otto seria daquelas baratas que não morrem na primeira chinelada.
Ele ressurge revigorado, ilustrando a ideia romântica de que momentos de crise geram belas obras de arte. "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos" é, de longe, o melhor e mais vigoroso disco de Otto.
Isso porque, desta vez, ele está livre de amarras. Não é mais um produto da bem-intencionada mas sem sal "geração Trama", gravadora que tentou emplacar novos nomes na MPB, e nem é mais representante da mistura de eletrônica com o regional brasileiro, que, em 1998, parecia ser muito moderno.
Otto finalmente se acertou com sua real turma. O novo disco é mais um fruto da já gloriosa "safra 2009", ano excepcional para a música brasileira.
Fernando Catatau (Cidadão Instigado), por exemplo, deixa sua marca registrada nas guitarras psicodélicas e emotivas de faixas como "Filha" e "Meu Mundo Dança"; Pupillo e Dengue (Nação Zumbi) criam a tensão necessária para Otto exorcizar demônios, mais do que apenas lamuriar; o ar afro de Céu está em "O Leite", e a mexicana Julieta Venegas confere "latinidade" a "Lágrimas Negras" (Jorge Mautner/Nelson Jacobina) e "Saudade".
Se em alguns momentos é mais visceral, sem medo de falar das fraquezas, está mais próximo da dor de Walter Franco que do romantismo de Roberto Carlos. Na épica "6 Minutos", canta: "Até pra morrer, você tem que existir/.../nasceram flores num canto de um quarto escuro". Desta vez, a música é bem maior do que o personagem.



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CERTA MANHÃ ACORDEI DE SONHOS INTRANQUILOS

Artista: Otto
Lançamento: Arterial Music (distribuição: Rob Digital); R$ 26,30
Avaliação: ótimo

Um comentário:

Dida Maia disse...

Doktor, acabei de conhecer vosso blog e acabei de me interessar de novo pela blogosfera.
É para isso que serve este espaço cibernético: para troca de impressões e sensações como um abraço em um amigo querido. Manda de lá que eu vou recebendo e de vez em quando participo daqui.

Grande abraço.