"É em empresas como a Lehman Brothers e a Merrill Lynch que reinam executivos, gerentes de contas e corretores tão ricos e poderosos que receberam o apelido coletivo de Mestres do Universo. Seus rendimentos – entre salários, comissões, bonificações e dividendos – são tão desproporcionais aos de qualquer outro ramo de atividade profissional que adquiriram uma espécie de propriedade mística, como a transubstanciação na Eucaristia: incorporam a distância que separa Wall Street da economia real e o capital produtivo do capital como abstração autogerativa, e são o mais próximo que o valor de qualquer trabalho já chegou da metafísica. Os Mestres do Universo são produtos rarefeitos da 'exuberância irracional' que dominou o mercado de capitais nestes últimos anos, na frase que já merece ser imortalizada como nome de banda de rap. Seu poder e sua riqueza deram a medida da irracionalidade.
Como não existem ateus nas trincheiras, não existem liberais ortodoxos para protestar quando o Estado interfere para salvar empresas combalidas. Basta, para ter direito ao socialismo que não diz seu nome, que a empresa seja tão grande que sua queda derrubaria mais do que convicções ideológicas. Ou seja, que a empresa tenha o poder de chantagem. Os americanos gostam de fazer pouco do que chamam de 'crony capitalism', ou capitalismo de compadres, de outros países em contraste com a pureza impessoal do seu mercado, mas, desde que salvou a Chrysler no governo Reagan porque ela simplesmente não podia falir, e através de outros governos firmemente antiintervencionistas, culminando com o socorro do Bush a bancos e financeiras na crise atual, o Estado vem cedendo a repetidas chantagens, no que só pode ser chamado de 'mafia capitalism'.
Não chore, portanto, pelos Mestres do Universo. Seja qual for o desfecho da crise, o capital financeiro continuará prevalecendo, e se auto-remunerando na mesma escala sideral – ou talvez com algum novo comedimento para não pegar mal. Outros gigantes financeiros estão ameaçados de ruir como a Lehman Brothers, mas nenhum dos seus executivos sairá sem uma boa compensação, sem contar com o que já acumularam nos anos de exuberância. E é difícil acreditar que o Estado deixe uma Goldman Sachs, que já deu colaboradores e idéias para tantos governos americanos, sem ajuda. Qualquer pedido que ela fizer será um pedido que o Estado não pode recusar."
(coluna de Luís Fernando Veríssimo de hoje nos grandes jornais do patropi)
domingo, 21 de setembro de 2008
Mafia capitalism - notas dominicais
Marcadores:
Luís Fernando Veríssimo,
Política
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7 comentários:
E dai? Qual o ponto? Tem algum?
sim, que a pureza neoliberal é um engodo: os "playboys" sempre pedem penico ao estado. será que o anônimo acima leu direito o texto?
Aff! Se os "playboys" soubessem da opiniao do Veríssimo. eles iriam mudar a atitude! APOSTO!!! IDEIA: Vamos mandar o post para os funcionários do wall street? Só assim eles se TOCAM, "bagunçam" os cabelos e o MUNDO dorme feliz para sempre (happy end!!!) UHUUUUUUU!
veríssimo escreve para os que estão do lado de cá. pois a ordem neoliberal sempre funcionará desta forma: os do lado de cá e os do lado de lá. diante disso, o sono do mundo nunca será tranquilo. para um bom entendedor, um alerta da barbárie: playboys do mundo, uni-vos!
rsrsrs UHUUUUUUUUUUUUU, Dr!
seria o anônimo uma espécie de Maria Antonieta dos trópicos? Adorei o blog, cheguei aqui pelo da cia de foto (http://ciadefoto.wordpress.com). abção!
depois eu te conto ta, pablito? na verdade, to mais pra maria antonieta da Sophia Coppola :) Viu esse filme? Uma versão modernosa, com uma direção que me deixou encantada. bjssssssssss.
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