terça-feira, 17 de junho de 2008

Instinto de interatividade

No último sábado, o Prosa & Verso (suplemento literário do jornal O Globo) foi inteiramente dedicado ao centenário de morte do escritor Machado de Assis. Nele, críticos como Roberto Schwarz, Renato Cordeiro Gomes, Silviano Santiago, entre outros, deixaram suas impressões sobre o bruxo do Cosme Velho. O ensaio de Silviano Santiago tratou de um artigo escrito por Machado no ano de 1871. Trata-se de "Instinto de Nacionalidade", texto que, coincidentemente, eu acabara de ler.

Já naquela época, o autor de Dom Casmurro chamava a atenção para os perigos dos excessos de localismos (regionalismo, brasilidade etc.) que podem empobrecer a literatura (como culturalista, acho que o raciocínio é válido pras realizações culturais de forma geral), conforme ilustra esta passagem:
"Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região, mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço."
(quem quiser ler na íntegra, o que aconselho, clique aqui)

Voltando dos méritos de Machado para o ensaio de Silviano, este termina sua exposição com o seguinte comentário: "Do ensaio vem também o alerta geral para os blogueiros: 'Outra coisa de que eu quisera persuardir a mocidade é que precipitação não lhe afiança muita vida aos seus escritos'."

Sem dúvida uma cutucada para os que, como eu, depositam seus parágrafos nesta ferramenta. Porém, creio numa outra lógica possível no "exercício blogueiro". Não o desejo narcísico da posteridade, mas sim, além do treino da escrita, a interatividade com virtuais leitores e comentadores. O que, convenhamos, pode ser bem bacana.


Antiga Vila Rica, numa tarde de frio de lascar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Frio de lascar!!!!!!!!!
Saudades de lascar!!!!!

Anônimo disse...

Alô, Dokstra, broder. Deu para passar aqui hoje, então passei. Não entendo muito de literatura nem essas coisas intelectuais de acadêmicos, mas acredito também no tal do "exercício blogueiro" que você mencionou pois também não me aplaca o "desejo narcísico da posteridade". Escrevo em blog para exercitar a escrita, o pensamento, a capacidade de raciocínio, essas coisas. Jamais com o intento de me tornar um escritor.
Tu foi lá no meu blog outro dia e mencionou minha "maneira desprendida de narrar". Pois não se engane, meu amigo: é pura e simplesmente a falta de técnica que me leva a cometer vários crimes gramáticos, sintáticos e morfológicos. Mas não se desespere não que eu estou estudando e um dia eu poderei publicar de forma melhor. Virei aqui pegar umas dicas bacanas. Aquele abraço. Milton.

Doutor Estranho disse...

caro milton, seja sempre bem vindo a casa. quanto ao seu comentário, não existe manual de técnica p/ escrita. essa é a grande graça da literatura. técnica cada um cria a sua - vc mesmo tem um puta jeito p/ a escrita. confidencio que gosto de uma literatura popular, direta, mas que seja inteligente. agora conhecimento é sempre bom que se some. no meio da pasmaceira acadêmica (e mesmo literária) dá pra pescar coisas interessantes e que nos servem também p/ não repetirmos os caras nem suas teecnicas. abxxxx