terça-feira, 10 de junho de 2008

Concurso, Antônio Cândido e o Sport Club do Recife

Há 2 meses venho estudando para prestar concurso numa universidade. Estudando não, tentando estudar, pois meu time não deixa. Claro que refiro-me ao glorioso Sport Club do Recife que amanhã joga a finalíssima da Copa do Brasil, sua última partida na competição. Gracias, é o caso de escrever. Isto porque já não aguento mais a movimentação futebolística como método para o refúgio da labuta - tenho com o esporte bretão minha única relação metafísica, uma religião.
Foram dias e dias frequentando sites, programas de tv, fóruns esportivos de toda sorte (inclusive as velhas resenhas radiofônicas do Recife cotidianamente pela web) na ansiedade de colher a mais recente informação sobre o escrete rubro-negro. Pra piorar o meu envolvimento, na última semana ainda houve o caso do estádio dos Aflitos que terminou por deflagrar uma verdadeira guerra regional mediante as arbitrariedades da justiça esportiva brasileira. Era o que faltava pra juntar a fome com a vontade de comer.
Pois bem, hoje no primeiro turno de trabalho, ao ler Iniciação à Literatura Brasileira*, obra do crítico Antônio Cândido, encontrei dois trechos que transcrevo abaixo na intenção de: 1) aliviar minha culpa, ao unir obrigação e dispersão; 2) convocar a torcida de todos pelo Leão da Ilha do Retiro no jogo desta quarta. Ao autor então, que na passagem que trata d'Os Sertões escreve:

"Graças à conjunção de um acontecimento dramático, da férvida imaginação de um observador privilegiado e da força de um estilo enfático, a opinião pública sentiu que a sociedade brasileira repousava sobre a contradição entre o progresso material das áreas urbanizadas e o atraso que marginalizava as populações isoladas do interior. Faltou a Euclides da Cunha apenas salientar a miséria que acompanha esta situação de abandono, para mostrar que se tratava de algo quase tão grave quanto a escravidão, que tinha sido abolida pouco antes. Ele baseou o seu livro no esquema determinista em voga naquele tempo, indicando como o meio físico e a raça condicionavam os grupos sociais, e como a diferença de ritmos da evolução gerava desarmonias catastróficas. A sua escrita transforma a pretendida objetividade científica em testemunho indignado e lúcido, resultando em denúncia do exército e da política dominante."

E duas páginas depois:
"A sociedade brasileira é assustadoramente desigual quanto aos níveis econômicos e os graus do progresso técnico. Daí produzir tipos extremos, que por sua vez produzem maneiras muito discrepantes dos grupos sociais se verem e se avaliarem. Baseado na descrição de áreas rurais pouco desenvolvidas, o regionalismo teve aspectos positivos, como destacar as culturas locais, com seus costumes e linguagem. Mas teve aspectos negativos, quando viu no homem do campo um modelo meio caricatural que o homem da cidade se felicitava por haver superado, e lhe aparecia agora como algo exótico, servindo para provar a sua própria superioridade e lhe dar um bem-estar feito de complacência."

Amanhã, rumo a um instante, ao menos, de igualdade e glória...


*O melhor: quem quiser baixar este livro, um ótimo resumo da história da literatura brasileira, liberadíssimo na rede. É só clicar aqui, vale demais!!

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