quarta-feira, 25 de junho de 2008

100 Trindade (eraOdito)

Em meio as comemorações do centenário de morte de Machado de Assis, passou em branco os 100 anos de nascimento do poeta Solano Trindade completados ontem. Não para o escritor Marcelino Freire, que no seu eraOdito (blog de primeiríssima!) lhe dedicou a homenagem que transcrevo abaixo.
Dois vivas para os dois!!



100 TRINDADE

Beirei-me à tarde lembrando dos cem anos, hoje, do poeta Solano Trindade. Nascido negro, em 1908, na cidade do Recife. E aí pensei em artistas assim: como o Pernalonga. Que morreu por falta de socorro. Explico: era ator marginal de Olinda. Portador do vírus da AIDS. Fazia campanha de prevenção e todo mundo sabia. Da sua alegria doente. Foi assaltado-esfaqueado, de repente. E mingüou em uma das ladeiras de Olinda. Sangrou sem ajuda. O povo não queria ser contaminado. Deixaram-no, feito cachorro, morrer. Mas por que estou rosnando isto? Em dia tão festim-festivo? Repito: centenário do Solano. E eu recordando alguns versos do pernambucano, gingados-recitados, outrora, pelo Pátio de São Pedro. Pelos meus amigos atores, como o Pernalonga. Por escritores teimosos de minha terra. E aí vem outra imagem: a do poeta Miró. Do bairro da Muribeca. Este, uma vez espancado porque estava sorrindo, sozinho, a caminho de casa. Por que este riso na cara? E a polícia caiu de pau. E Miró hoje tem uma poesia visceral. Cantada de dor. Rasgada. E tanta coisa chega à minha caixola. Morro da Providência. Sem providência. Esse meu coração abobalhado. Demagógico. Sei, sei. Ora, ora. Memorializo o tempo em que eu fazia teatro no bairro cariado de Água Fria. E da professora Ilza Cavalcanti que disse-me um dia: "você tem futuro". Quando eu escrevia coisa sem vida. Branca pele pálida. E aí vim para São Paulo. Desde 91. E sempre me indagam de onde vem este meu som inflamado. Esses meus contos-descasos. Descamisados parágrafos. E eu lembro do Solano. E do Bandeira, em outra beira. De beco. Tuberculoso. E eu sinto saudades e raiva. E aí eu penso em tanta gente por aqui. Dentro da cidade de São Paulo. Sérgio Vaz, por exemplo. E eu saúdo o Solano. No exibido ano do Machado. E eu deixo aí embaixo um poema do Trindade. E mais não deixo. Talvez um beijo e aquelabraço. Fui.

Gravata Colorida (S.T.)

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...

2 comentários:

mariana lacerda disse...

ô, negao...
que coisa linda isso...
beijos e uma breve saudaçao por aqui...
babuska.

Doutor Estranho disse...

ô babuska...
que bom vc poraqui. venha sempre fazer uma visita ao seu negão... bjos!