Em meio as comemorações do centenário de morte de Machado de Assis, passou em branco os 100 anos de nascimento do poeta Solano Trindade completados ontem. Não para o escritor Marcelino Freire, que no seu eraOdito (blog de primeiríssima!) lhe dedicou a homenagem que transcrevo abaixo.
Dois vivas para os dois!!
100 TRINDADE
Beirei-me à tarde lembrando dos cem anos, hoje, do poeta Solano Trindade. Nascido negro, em 1908, na cidade do Recife. E aí pensei em artistas assim: como o Pernalonga. Que morreu por falta de socorro. Explico: era ator marginal de Olinda. Portador do vírus da AIDS. Fazia campanha de prevenção e todo mundo sabia. Da sua alegria doente. Foi assaltado-esfaqueado, de repente. E mingüou em uma das ladeiras de Olinda. Sangrou sem ajuda. O povo não queria ser contaminado. Deixaram-no, feito cachorro, morrer. Mas por que estou rosnando isto? Em dia tão festim-festivo? Repito: centenário do Solano. E eu recordando alguns versos do pernambucano, gingados-recitados, outrora, pelo Pátio de São Pedro. Pelos meus amigos atores, como o Pernalonga. Por escritores teimosos de minha terra. E aí vem outra imagem: a do poeta Miró. Do bairro da Muribeca. Este, uma vez espancado porque estava sorrindo, sozinho, a caminho de casa. Por que este riso na cara? E a polícia caiu de pau. E Miró hoje tem uma poesia visceral. Cantada de dor. Rasgada. E tanta coisa chega à minha caixola. Morro da Providência. Sem providência. Esse meu coração abobalhado. Demagógico. Sei, sei. Ora, ora. Memorializo o tempo em que eu fazia teatro no bairro cariado de Água Fria. E da professora Ilza Cavalcanti que disse-me um dia: "você tem futuro". Quando eu escrevia coisa sem vida. Branca pele pálida. E aí vim para São Paulo. Desde 91. E sempre me indagam de onde vem este meu som inflamado. Esses meus contos-descasos. Descamisados parágrafos. E eu lembro do Solano. E do Bandeira, em outra beira. De beco. Tuberculoso. E eu sinto saudades e raiva. E aí eu penso em tanta gente por aqui. Dentro da cidade de São Paulo. Sérgio Vaz, por exemplo. E eu saúdo o Solano. No exibido ano do Machado. E eu deixo aí embaixo um poema do Trindade. E mais não deixo. Talvez um beijo e aquelabraço. Fui.
Gravata Colorida (S.T.)
Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
quarta-feira, 25 de junho de 2008
100 Trindade (eraOdito)
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2 comentários:
ô, negao...
que coisa linda isso...
beijos e uma breve saudaçao por aqui...
babuska.
ô babuska...
que bom vc poraqui. venha sempre fazer uma visita ao seu negão... bjos!
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