terça-feira, 1 de abril de 2008

Sobre genialidades e (falta de) materialidades

No último domingo, Renato L, jornalista e conhecido com ministro da informação do Mangue, publicou no Manguetronic um ótimo texto chamado “Por que (ainda) precisamos de ‘gênios’?”. Para responder a pergunta-título, o autor começa:
“Antes de tudo, porque ainda estamos presos a um conceito romântico de Arte, que faz da inspiração uma dádiva divina e do indivíduo o centro do ato criativo. Não sobra espaço, aqui, para a materialidade inerente ao metabolismo social da vida humana e para o reconhecimento do coletivo como instância definidora fundamental de nossos atos – inclusive os criativos.”

Já neste início, Renato deixa claro que sua posição na interpretação dos objetos artísticos é materialista. Quando escrevo materialista, não me refiro ao sentido corrente da palavra que designa normalmente pessoa interesseira e/ou apegada a bens materiais, mas sim àquele utilizado na filosofia ocidental. Mas, o que seria uma posição interpretativa materialista? Ou melhor o que é ser materialista?

Pois bem, ontem coincidentemente comecei a ler o último livro do Joel Rufino dos Santos, Quem ama literatura não estuda literatura, e logo na página 17 encontro o seguinte parágrafo (e que terminou por motivar este post):

“O materialista é apenas aquele que vê na base material da existência – a natureza, o universo, a sociedade, a cultura, o corpo humano etc. – a explicação última para tudo; última, mas não única. Nas suas análises, o materialista busca sempre identificar a materialidade dos fenômenos. Por exemplo, ao analisar o conceito de literatura dominante em nossas faculdades de letras, critério final pelo qual se incluem e excluem autores dos currículos, em vez de aceitar esse conceito em si mesmo como válido e correto (ou mesmo inválido e incorreto), o crítico materialista procura as razões materiais (algumas inconscientes) que nos levaram a adotá-lo. Para ele não se trata apenas de razões ideais, como o bom gosto, o cânone, a tradição, a literalidade etc. Ele se pergunta pela materialidade dessas idéias e definições, indo encontrá-las em fatores materiais, tais como a história da língua, o poder das instituições sociais (a Academia Brasileira de Letras, por exemplo), o movimento editorial, o mercado do livro, a classe dos professores de literatura, seus interesses profissionais (a começar pelo salário) e assim por diante.”

Após ler este trecho, uma ponte com a primeira citação me pareceu evidente e inevitável. Ao questionar a necessidade de gênios (e de cânones), Renato ataca as razões ideais de suas existências refletidas, por exemplo, na encarnação de valores eternos (comumente transformados na palavra mágica "tradição") por eles. Mostra também certos mecanismos de seus cultos criados pela indústria cultural, que os tornam acriticamente em celebridades unânimes. Denuncia, sobretudo, a falta de suas materialidades:
“nós cultuamos os 'gênios' porque não os conhecemos. Não trepamos com eles. Não sentimos os seus cheiros. Não fomos vítimas de suas vinganças mesquinhas. Não privamos de sua humanidade.”

Se quiserem mais, não deixem de ler o “texto” na íntegra!

2 comentários:

aLiNe FeiTosA disse...

Um é bom. dois é melhor ainda. Adorei o completo de pensamento.
Betão,
tô com novo blog no ar:
www.blogdagastro.blogspot.com

vai lá, nego!
cheiro!

Doutor Estranho disse...

tô indo lá agorinha mesmo...