quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

E de que lado você samba?

Em minha atual odisséia livresca, hoje me deparei com esta que é das maiores questões do pensamento ocidental, senão a maior. Um verdadeiro Fla x Flu do juízo, que revela interpretações de vidas, que divide nossos combalidos espíritos nos binômios idealista/materialista, direita/esquerda, arte/cultura e tantos outros pares existenciais/conceituais. Tava lá no velho livro Teoria da Literatura do crítico Rene Wellek, na forma do problema estético:

"Em certo sentido, poder-se-ia dizer que o problema, no campo da estética, se situa entre a concepção que afirma a existência de uma 'experiência estética' isolada, irredutível (reino autônomo da arte), e a concepção das artes como instrumentos da ciência e da sociedade, que nega a existência de um tertium quid como 'valor estético'."

Para os simpatizantes da primeira concepção, da arte pela arte, trago um ótimo trecho que encontrei por esses dias do poeta francês Théophile Gautier (influenciou um tal de Baudelaire), que no seu romance Mademoiselle de Maupin escreveu:

"Não há verdadeiramente belo senão o que não pode servir para nada; tudo o que é útil é feio, porque é a expressão de qualquer necessidade, e as necessidades do homem são ignóbeis. - O local mais útil de uma casa, são as latrinas."

Aos devotos da segunda, ofereço a fina ironia de Terry Eagleton, botando a literatura na berlinda no seu Teoria da Literatura: uma introdução:

"A literatura foi, sob vários aspectos, um candidato bem adequado a essa empresa ideológica (a de substituir a religião na passagem da sociedade feudal para a moderna-capitalista). Como atividade liberal, 'humanizadora', podia proporcionar um antídoto poderoso ao excesso religioso e ao extremismo ideológico. Como a literatura, tal como a conhecemos, trata de valores humanos universais e não de trivialidades históricas como as guerras civis, a opressão das mulheres ou a exploração das classes camponesas inglesas, poderia servir para colocar numa perspectiva cósmica as pequenas exigências dos trabalhadores por condições decentes de vida ou por um maior controle de suas próprias vidas; com alguma sorte, poderia até mesmo levá-los a esquecer tais questões, numa contemplação elevada das verdades e das belezas eternas."


E então, de que lado você samba?

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