sexta-feira, 30 de maio de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Combustível aditivado
É assim. E de repente. Quando o espírito parece mimetizar a paz de minha flor, eis que surge a sombra das urgências apontando para o caminho do desespero. Cumpro as obrigações que me cabem no momento, vá lá, quase todas. Mas tudo parece pouco. Atarantado, nada existe neste instante que consiga me ordenar um parágrafo de texto. Nem as grandes questões da humanidade, do imbróglio amazônico à velha camuflagem da luta de classes. Nada. Nem mesmo as miudezas que justificam toda miséria da existência, como o sorriso da moça, o esculacho do povo, o doce da melancia, minha pequena Maria... Nada, nadinha. Resta-me agora assistir, paciente e resignadamente, a vida escorrer pelas auroras e crepúsculos dos dias que se apressam, acelerados pelo combustível aditivado da angústia...
Só pra informar que volto quando puder. A sobrevivência e os prazos solicitam.
domingo, 25 de maio de 2008
O Boca do Inferno c'est moi! - notas dominicais
"Sou um sujo, e um patola,
de mau ser, má propensão,
porque se gasto o tostão,
é só com negras de Angola:
um sátiro salvajola,
a quem a universidade
não melhorou qualidade,
nem juízo melhorou,
e se acaso lá estudou,
foi loucura, e asnidade."
sábado, 24 de maio de 2008
E se a gente sequestrasse o trem das 11?
Acaba de sair Combat Samba - E se a gente sequestrasse o trem das 11?, uma coletânea com os principais sambas da mundo livre s/a. Eis as pérolas-baticum que estão no trabalho:
01 - O mistério do Samba
02 - Édipo, o Homem que virou Veículo
03 - Livre Iniciativa
04 - Muito Obrigado
05 - Seu suor é o melhor de Você
06 - A Expressão Exata
07 - Terra escura
08 - Saldo de Aratu
09 - Meu esquema
10 - Musa da Ilha Grande
11 - E a vida se fez de Louca
12 - Super Homem Plus
13 - Carnaval Inesquecível na Cidade Alta
14 - Estela (A Fumaça do Pagé Miti Subitxxy)
A última faixa é inédita e foi produzida pelo Eduardo Miranda, produtor que já tinha trabalhado com a banda no genial Samba esquema noise, o primeiro disco lançado em 1994. A arte da capa (acima) é do casal Jorge du Peixe e Valentina e quem quiser baixá-lo é só entrar aqui.
Este estranho dotô só lamenta a falta de "Ultrapassado", faixa do Carnaval na obra (1998), o mais belo samba-punk já feito nessa colônia penal chamada de planeta terra...
terça-feira, 20 de maio de 2008
Pode me chamar que eu vou! - Eddie no Teatro Odisséia
Para os que estão na Guanabara, amanhã, quarta 21/05, tem show do Eddie no Teatro Odisséia. Maiores informações aqui. Tô lá!
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Cia de Foto em Caixa de Sapato
Caros leitores(as),
um amigo, o fotógrafo Pio Figueiroa (o fera que fez a belíssima foto deste post), pediu uma força na divulgação de um trabalho que sua agência vem desenvolvendo. Segue o link aqui e explicação do danado abaixo. Coisa fina, vão lá!
Caixa de Sapato:
Essas fotos fazem parte de um ensaio desenvolvido por nosso coletivo.
São imagens de nossa intimidade, a Caixa de Sapato onde guardamos
nossas lembranças e histórias.
As fotos estão liberadas para download e se precisar delas em maior
resolução,
nos mande um e mail.
A Cia de Foto só pede um favor: deixe um comentário contando que uso
fará da imagem.
Essa informação tem um enorme valor para gente.
Shoe Box:
These images are part of a bigger photo essay by CIA DE FOTO.
Images from our intimacy, the "Shoe Box" where we STORE our memories
and stories.
You can download the images from this stream for free. If you want it
in a higher resolution, send us an email.
We only ask you to post a comment saying what you are planning to do
with the image.
This information is very important for us.
Also take a look at our website (www.ciadefoto.com.br)
domingo, 18 de maio de 2008
A crítica da separação - filme dominical
"A subjetividade infeliz e miserável acaba se tornando uma espécie de objetividade: um documento sobre as condições da nossa não-comunicação. Não inventamos ou criamos nada. Nos adaptamos, com algumas variações, na rede de possíveis itinerários. E nos acostumamos a isso."
Guy Debórd
Parte 1
Parte 2
sexta-feira, 16 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Leituras cotidianas
O editor desta bodega eletrônica segue em sua missão pela morte da autoria - ele mesmo não escreve mais nada! ; ). Os links deste post são para dois textos interessantes lidos ao longo do dia de hoje. O primeiro sobre a atual crise mundial de alimentos (clique aqui); o segundo sobre um abaixo-assinado anti-contas (aqui). Valem a leitura!
terça-feira, 13 de maio de 2008
Sobre maio-68
Na sociedade do espetáculo triunfante, assistimos o embalsamento de sua mais pesada crítica no intuito de transformá-la, mais uma vez, em mercadoria... Tá aqui aqui um texto para os que acreditam no fim da história (e outros conformados de plantão), mas, sobretudo, para os que crêem em alguma dignidade possível.
(Que beleza, Sista!)
domingo, 11 de maio de 2008
A (anti)receita do Dr. Sérgio - notas dominicais
"Não se descobre poesia, como se fosse fórmula de remédio, com esforço de paciência. Ela tem de vir pelas suas próprias forças.(...)Foi por isso que o Sr. Sérgio Buarque de Holanda, agudo como o diabo, disse uma vez que essa história de arte brasileira 'não nascerá da nossa vontade, surgirá muito mais provavelmente da nossa indiferença'. Sérgio Buarque quis com isso tocar no esforço e messianismo de certa gente que a toda a força procura criar uma arte nacional, como se fosse tão fácil criar uma arte."
(Jorge de Lima e o Modernismo, ensaio sobre o poeta de José Lins do Rêgo)
Uma fábula contra o mundo da técnica
Entre os anos de 2005 e 06 o Dj Dolores (foto) manteve uma coluna semanal no Diário de Pernambuco. Há exatos 2 anos foi publicada nela esta pérola que reproduzo aqui. Uma ótima fábula, ambientada no mundo da música pop, contra o discurso da técnica e a favor do free style. Boa (re)leitura!
Quinta-feira, Maio 11, 2006
Técnica X Intuição
O mundo é injusto!
Tomemos duas amostras casuais, o músico R e o músico L. O primeiro demonstrou queda para a música desde pequenininho, matriculou-se no conservatório, dedicou-se arduamente a estudar escalas – desenrola as pentatônicas como se assobiasse - técnicas de dedilhado, acordes difíceis e ritmos em divisões de tempos complexos. Seus dedos estão calejados pelas cordas, sua boca ferida pelo bocal, as costas reclamam do peso do instrumento.
Depois de tanto tempo investindo em seus estudos, o Sr. R se vê trabalhando em ambientes de pretensões jazzísticas, mas maculados por goles de cerveja, risadas jocosas e caôs amorosos. No fim da noite, o Sr. R está arrasado, ressentido com a raça humana – essa cambada de ignorantes! – pois ninguém respeita seu trabalho, sua técnica sofisticada, sua filosofia berkeleeniana... seu virtuosismo!!!
Por outro lado, o Sr. L chegou até a música por causa da maloqueiragem. Entre uma cerveja, um baseado e a roda de amigos, aprendeu a tocar um instrumento. Desenvolveu sua técnica de modo intuitivo, montou acordes copiando cifras de revistas, não sabe ler nem escrever partituras e – pasmem! – pendura a guitarra de modo desleixado, lá embaixo da cintura.
Mas o Sr. L tem qualidades: sua música simples seduz o público, tem noção de tempo e sabe como timbrar seu instrumento conferindo-lhe personalidade. Seus erros – erros sob o ponto de vista da escola do Sr. R – são inovadores por subverterem uma linguagem conservadora. O resultado veio em shows e carinho do público – gentalha, diria o círculo de amigos do Sr. R – que imita seu estilo de pegar a guitarra em inspiradas air guitars.
Com todo seu saber intuitivo o Sr. L virou referência não só no país, mas também fora e deve ser lembrado durante muito tempo como alguém dono de um estilo próprio.
Para o Sr. R, resta o consolo de seus pares injustiçados que, entocados nos porões do virtuosismo, se exibem uns para os outros.
Não, o mundo não é injusto. A gente é que sabe escolher o que a gente gosta.
A escola
A Escola de Berkelee virou paradigma de virtuosismo musical. Para alguns, é claro. De lá saíram os músicos mais chatos do planeta, emoções esmagadas pela técnica pura, pela afetação exibicionista, uma presunção elitista baseada em enquadrar a música popular na escrita acadêmica.
Sua corrente de pensamento acredita na música como algum tipo de esporte que pode ser medido com exatidão numérica, como se a quantidade de notas num solo ou o número de acordes – sempre bastante complexos – determinasse uma progressão musical.
Os caras fizeram o impossível: pegaram o jazz e o blues e encaretaram ao suprimirem o que tem de melhor nesses estilos: a espontaneidade generosa dos seus intérpretes.
E agora eles tem uma cadeira para DJs. Encaixotaram o scratch!!!
Alguém aí lembra dos nossos armoriais?
A Casta
Existe sempre alguém tentando nos convencer que alguns são absolutamente melhores que os outros. O velho embate do gosto é o esporte favorito das elites para nos convencer que seu dinheiro gerou cultura de qualidade.
Puro engodo retórico!
O sistemas de castas culturais cansa a minha paciência e me faz ter essa horrível sensação de perda de tempo. Lembro-me, por exemplo, de uma palestra onde o venerável Ariano Suassuna ardia em chamas irritado com a presença da guitarra – esse objeto alienígena – na pureza da nossa música brasileira.
Fred Zeroquatro, então um jovem punk, lembrou que o piano – tão usado na construção armorial - era um instrumento europeu.
E o velho mestre corou e engasgou diante da platéia do Centro de Artes.
Seria apenas cômico se tantos não o levassem a sério.
(Ps.: para quem quiser mais da verve do Dj, os textos ainda estão disponíveis aqui)
quinta-feira, 8 de maio de 2008
A cárie da fome universal
No ano de 1950, Oswald de Andrade, já então professor concursado da cadeira de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia da USP, andava com a idéia de prestar um outro concurso na mesma instituição, desta vez para a cadeira de Filosofia. Tal iniciativa, no entanto, era desencorajada pelo amigo e também colega de trabalho (ninguém nada menos que) Antônio Cândido, que alegava ser o processo uma situação muito técnica, para a qual o homem da antropofagia não estaria preparado e que isso poderia comprometê-lo inultilmente (o próprio Cândido admitiu que na época não entendia que um grande talento poderia valer muito mais do que toneladas de professores "tecnicamente preparados"). Oswald protestava, dizendo que a Universidade precisava se abrir, que era um direito dele, coisa e tals. A peleja terminou gerando o seguinte diálogo:
- Mas você não tem cultura filosófica organizada. Imagine se na defesa da tese Fulano (um examinador potencial, famoso pela truculência) faz perguntas em terminologia que você não domina - argumentava Cândido.
- Dê um exemplo - retrucava Oswald.
- Não sei. Não entendo disto; mas anda por aí um vocabulário tão arrevezado de "ser-no-outro", "por-si", "orifício existencial" e não sei mais o quê...
- Mas dê um exemplo - insistiu.
- Bem, só para ilustrar: se ele pergunta pernosticamente: "Diga-me V.S. qual é a impostação hodierna da problemática ontológica?"
- Eu respondo: "V.Excia. está muito atrasado. Em nossa era de devoração universal o problema não é ontológico, é odontológico!"
(Diálogo retirado e adaptado do artigo "Digressão sentimental sobre Oswald de Andrade", que está no livro Vários escritos de Antônio Cândido)
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Domingo (Soledad leitmotiv)
Na imensa tristeza da euforia,
nem me restou a tiara de teus cafunés...
domingo, 4 de maio de 2008
Quanto vale uma vida? - notas dominicais
"- Mamãe! Mamãe!
- Que é, minha filha?
- Nós não somos nada nessa vida."
Diálogo "no future" retirado de Clara dos Anjos, romance do grande Lima "Maluco" Barreto (foto), um dos 3 maiores romancistas do patropi na humilde opinião deste estranho copista.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
1 ano do Dr. E.!
Há exatamente 1 ano atrás, o primeiro post deste jardim de pixels. Não por acaso, dia do trabalhador: estranhos, almas esquizas e perras, uni-vos! Uni-vos e comemorai-vos, afinal, são 365 dias de sobrevivência neste mundo sem porteiras e sem juízo. Figurino novo, ao menos. Já que a vida longa é a condenação da saúde esticando o sarcasmo requintado da sina. Que não falte ao responsável desta bodega eletrônica um tantinho de comida, dormida e luz elétrica...