"O dinheiro como valor hegemônico na sociedade contemporânea é suposto promover a ascensão social, baseada esta exclusivamente em critérios econômicos e no prestígio do dinheiro. Em seu livro 'O Processo Civilizatório', Norbert Elias analisa os primórdios da 'revolução burguesa' na França, indicando a democratização dos costumes de corte. A burguesia, no esforço de alcançar uma legitimidade que não fosse a do dinheiro que ainda não se impusera como valor, procurou 'aristocratizar-se', adotando a etiqueta e 'as boas maneiras'. Como lhe faltava o universo das tradições e dos méritos da nobreza, esforçou-se para ascender aos bens culturais. Mas, com a institucionalização da sociedade de consumo, os bens culturais que exigiam iniciação para serem compreendidos em suas linguagens próprias - como as artes e os saberes literários - foram sendo abandonados e passaram a se reger pela obsolescência constante.
De onde o advento de 'modas intelectuais'. A ideologia 'novo-rico' prescinde até mesmo do 'verniz da cultura'. Porque a ideologia dominante na sociedade é a da classe dominante, a contemporânea é a dos 'novos ricos'. O 'novo rico' é aquele que conhece o preço de todas as coisas mas desconhece seu valor. Sob seus auspícios, a educação produz uma cultura embotadora da sensibilidade e do pensamento, pois é entendida pela ideologia 'novo rico' como 'serviço' e mercadoria mais ou menos barata dos quais o novo rico é cliente e consumidor."
Olgária Mattos, filósofa e professora titular da Universidade de São Paulo, em A democracia moderna: a corrupção e a estética da moeda - texto na íntegra aqui!
domingo, 4 de abril de 2010
Sem verniz - notas domênicas
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