quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Folia e direitos humanos

Em Pernambuco diversos segmentos da sociedade civil organizada criaram um comitê de apoio ao Programa Nacional de Direitos Humanos, o tão propalado - e combatido pelas forças da reação - PNDH3.
Pois bem, uma comissão desse comitê está se articulando no carnaval para divulgar as ações do grupo. Ela já conseguiu 200 camisas para os dias de Momo e deve confeccionar mil adesivos com a frase Eu apóio o PNDH3! para serem distribuídos em frente ao Centro de Cultura Luiz Freire em Olinda. Os "adesivaços" - que servirão também para coletar assinaturas de apoio ao Plano - estão previstos para os seguintes horários:
Sexta (12/02) 18h
Sábado (13/02) 16h
Domingo (14/02) 10h

Participe, dê o seu apoio! O país agradece...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A nova classe média

Imagine que vc fosse dono de um jornal no Brasil. Imaginou? Agora me diga ainda imaginando, do alto do seu poder e consciência, se isso não seria seu editorial principal.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ocupação Chico Science e o cosmopolitismo do pobre

Semana passada foi inaugurada em São Paulo a Ocupação Chico Science, exposição promovida pelo Itaú Cultural. Quinze anos após ao Da lama ao caos, o Mangue volta a ganhar as páginas dos cadernos culturais dos jornais brasileiros. Mas enfim, hoje, início da segunda década do século XXI, o que de mais importante nos foi deixado pela última movimentação cultural do país?
Numa matéria sobre a referida exposição, publicada na última sexta (05/02/10) no Diário de Pernambuco, o roteirista e diretor Hilton Lacerda responde a essa pergunta com a luz que lhe é peculiar:
"O mangue bit ganhou chancela de batida. Sua dimensão alimentou discussões apaixonadas. Alguns ficaram pelo caminho, mas o movimento continuou a influenciar uma gama de acontecimentos culturais que reverberam até hoje - seja por concordância, seja por afirmar sua superação. Mas o que realmente é importante aí? Para mim, foi o canal aberto na periferia: o alto falante que, a partir de uma possibilidade, levou ares desse cosmopolitismo de pobre para o mundo".

Sem mais...

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...Com mais:

Para maiores esclarecimentos (por que não perco essa mania pedagógica?), cosmopolitismo do pobre é um conceito que foi desenvolvido pelo crítico e escritor Silviano Santiago num artigo homônimo publicado em livro também homônimo. Mas afinal, do que trata essa expressão? Com a palavra, euzinho mesmo:

"No artigo intitulado 'O cosmopolitismo do pobre', o crítico Silviano Santiago analisa duas formas de multiculturalismo que se instituiu no Brasil ao longo de sua história. A primeira tem origem mais antiga, baseada na idéia de estado-nação e que, resumidamente, foi uma construção 'de homens brancos para que todos, indistintamente, sejam disciplinarmente europeizados como eles' (no texto, o autor cita alguns dos seus importantes representantes na cultura brasileira como José de Alencar, Aluísio Azevedo, Gilberto Freyre, Jorge Amado, entre outros). A segunda, de acordo com Santiago, é uma forma recente e que ainda vem se firmando através do pleito de dois pontos basicamente: dar conta da afluência dos migrantes pobres (na maioria ex-camponeses) nas megalópoles pós-modernas; e resgatar grupos étnicos e sociais, economicamente prejudicados durante a vigência (e, em boa parte, decorrente das ações) do primeiro multiculturalismo. Sobre o processo de passagem de uma forma para outra, o autor comenta:

'Ao perder a condição utópica de nação – imaginada apenas pela sua elite intelectual, política e empresarial, repitamos – o estado nacional passa a exigir uma reconfiguração cosmopolita, que contemple tanto os seus novos moradores quanto os seus velhos habitantes marginalizados pelo processo histórico. Ao ser reconfigurado pragmaticamente pelos atuais economistas e políticos, para que se adéqüe as determinações do fluxo do capital transnacional, que operacionaliza as diversas economias de mercado em confronto no palco do mundo, a cultura nacional estaria (ou deve estar) ganhando uma nova reconfiguração que, por sua vez, levaria (ou está levando) os atores culturais pobres a se manifestarem por uma atitude cosmopolita, até então inédita em termos de grupos carentes e marginalizados em países periféricos.'

Distante de um ideário patriótico e gerado numa época de economia de mercado transnacional, podemos considerar aqui que este novo multiculturalismo no país também é um desdobramento das mudanças trazidas pela globalização com seu enfraquecimento do estado-nação e com seu aumento de trocas culturais – tanto
através da vida cotidiana concreta (migrações, viagens etc.) como pela ampliação das referidas redes comunicacionais (as mídias, as universidades, os museus e várias outras instituições). Em outras palavras, o multiculturalismo brasileiro atual é um fenômeno que vem ocorrendo atrelado ao caráter transcultural do mundo contemporâneo. É ele que instaura, conforme a expressão de Santiago, o nosso 'cosmopolitismo do pobre'."
(In: A reinvenção do Nordeste nas crônicas d' O Carapuceiro)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

tira dominical


Parece um recado do Laerte p/ o Luiz Felipe Pondé desse link...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Envelheço na cidade

Pra relaxar em meio a confusão, o hino do mais novo bloco do carnaval de Olinda: o 100 anos de Alceu!

Da província


Este post vai para os pernambucanos. Mais precisamente para o setor cultural da capitania que deu mais lucro. Agora imaginem do que se trata: pernambucanos+setor cultural=confusão2 (não sei como colocar potência aqui nesse troço!).
A zuada é a seguinte: em recente matéria do Diário de Pernambuco (dia 25/01/10, confiram no link!), Luciana Azevedo, presidenta da Fundarpe (órgão público estadual que trata da cultura), criticou o Conselho Estadual de Cultura na sua estrutura e funcionamento. A posição de Luciana está em plena sintonia com as demandas da sociedade civil que foram explicitadas muito claramente na Conferência Estadual de Cultura realizada em dezembro último no Recife - na ocasião, os evolvidos do setor reclamaram a composição não paritária e não democrática de tal entidade.
O Conselho reagiu e lançou uma carta-resposta (está no link da matéria linkada) na qual prevê que a presidenta será conhecida nos anais da história da província com o nome de... bruxa!(pasmem!)
Na sequência, a Fundarpe redigiu uma tréplica que trancrevo (e ajudo a divulgar) abaixo:

Em resposta à matéria Conselho de Cultura refuta acusações, publicada no dia 4 de fevereiro de 2010, no Diario de Pernambuco, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) vem a público esclarecer:

Pernambuco é uma imensa nação cultural do cais ao sertão, consolidada pelo tecido sociocultural, independente da própria atuação do poder público.
A valorização da cultura no Estado de Pernambuco é uma determinação do governo Eduardo Campos no Mapa da Estratégia de gestão 2007/2010, integrando as bases adequadas para o desenvolvimento da cidadania e igualdade de oportunidades, tendo como focos prioritários a interiorização e os estratos mais vulneráveis da população.
É muito importante registrar que o poder público não produz Cultura, ele fomenta a produção cultural, promove mecanismos de preservação, difunde, faz fruir e subsidia o seu desenvolvimento sustentável.
Quando se fala em Política Pública de Cultura, remete-se a uma arquitetura institucional de leis, planos, fundos e canais participativos, ancorados em princípios, diretrizes, objetivos, metas e papéis do poder público frente ao desenvolvimento cultural.
Ao se caracterizar modelo de gestão participativa, estabelecendo as analogias com as políticas públicas já consolidadas na área de educação, saúde, assistência social e norteando-se pela primeira Conferência Nacional de Cultura 2005/2006 – Estado e sociedade construindo Políticas Públicas de Cultura (Ministério da Cultura/Secretaria de Articulação Institucional) reporta-se a preceitos constitucionais, ancorados em canais participativos de composição paritária entre poder público e sociedade civil cuja composição se dá tanto pelo tecido sociocultural como pelas suas entidades representativas eleitas em fórum específico.

Como discorrer sobre Política Pública de Cultura é algo muito novo, atualmente dinamizado pelo Ministério da Cultura, e construído pelos demais entes federativos, com ampla participação da sociedade, às vezes, se estabelece uma incompreensão sobre o papel do poder público para o desenvolvimento cultural, que é hoje o foco dos grandes debates, com a produção cultural que é parte inerente ao processo civilizatório da humanidade, assegurada a liberdade de criação e expressão e respeitadas as formas artísticas em todas as suas diversidades.
É da perspectiva de reafirmação deste papel do Estado que o MINC e o Governo do Pernambuco, através da Fundarpe, vêm ressaltando a necessidade de fortalecimento, no intuito de garantir a toda população o pleno exercício dos direitos culturais (Art. 215 da Constituição 1988)

O governo do Estado, através da Fundarpe, sempre respeitou o papel desenvolvido pelo Conselho Estadual de Cultura, inclusive trabalha em parceria no que se refere ao item preservação relativo a tombamentos e registros de patrimônios materiais e imateriais, e patrimônio vivo.
Ressalta-se que o modelo de conselhos definidos pelo Sistema Nacional de Cultura, refere-se a canais participativos de cogestão das Políticas Públicas de Cultura, segundo esse contexto destacado, colocando a ação do Estado para a cultura em uma outra dimensão estruturadora, no que concerne à elaboração de leis, planos e frentes sistêmicas de atuação do poder público na participação do desenvolvimento cultural da Nação.

É neste sentido, e não com conotação de assembleísmo, mas de consolidação da própria democracia participativa que garantimos resultados concretos numa dimensão nunca anteriormente registrada.

Conquistas consolidadas coletivamente:

1. Interiorizamos a ação da Fundarpe e realizamos, nesses 3 anos, 111 Fóruns de capacitação sobre Políticas Públicas de Cultura, elaboração de projetos para concorrência em editais públicos, inclusão digital à rede virtual colaborativa da Política Pública de Cultura o portal www.nacaocultural.pe.gov.br, fortalecendo gestores, técnicos e o tecido sociocultural das 12 regiões do Estado.

2. O acesso ao fomento, viabilizado pelo poder público, a partir de projetos culturais desenvolvidos pela produção independente, foi fortalecido em bases democráticas por seleções públicas, via editais, sendo ampliado de 4 milhões em 2006 para 31 milhões em 2009 (Funcultura, edital de audiovisual e Pontos de Cultura,...)

3. 60% dos projetos fomentados pelo governo do Estado, via editais, antes majoritariamente concentrados em Recife e Olinda, circularam em todas as regiões.

4. O papel do poder público para a fruição da produção cultural pernambucana foi garantido através da visitação de 412 mil pessoas a museus e estações culturais, gerenciadas pela Fundarpe e pela implementação de 12 festivais que funcionaram e funcionarão como ações de Política Pública itinerante em todas as regiões, nas áreas de formação, fruição, preservação, difusão em todas as linguagens culturais. Os ciclos culturais do Carnaval, Junino e da Paixão tiveram suas celebrações garantidas através de polos regionais com integração de todos os municípios componentes e coordenados pelo poder público, ressaltando a diversidade e intercâmbio cultural de todo Estado.

5. A área de formação teve seu recorde de projetos fomentados. Foi consolidada a primeira especialização em Economia da Cultura do Nordeste, desenvolvida em parceria com Fundação Joaquim Nabuco e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul além da capacitação com elaboração de cartilhas próprias na área de preservação em 33 municípios.

6. Garantiu-se o fomento continuado a 80 grupos consolidados de cultura em todo estado em parceria com o governo Federal junto ao Minc, destacando grupos de caboclinhos, maracatus, santeiros de Ibimirim, povos indígenas e quilombolas, artesão do alto do Moura, samba de véio da região do São Francisco, entre outros...

7. Foram recuperadas, dinamizadas 16 edificações que integram o patrimônio material de Pernambuco e estão em andamento mais dois Cines Teatros, na Mata Norte e Mata Sul, no sentido de viabilizar estações culturais do poder público estadual nas 12 regiões bem como foram georeferenciados, de forma pioneira, os patrimônios materiais do Estado e seus pontos de Cultura.

8. Foram ministradas pelo mestre Ariano Suassuna e sua equipe da Secretaria Especial de Cultura 100 aulas-espetáculo, ressaltando a cultura pernambucana.

9. Os Pontos de Cultura desenvolveram aulas-espetáculo nas escolas públicas estaduais, atingindo mais de oito mil alunos, possibilitando o acesso da comunidade escolar à vivência cultural de Pernambuco

10. A ampliação dos recursos do governo do Estado relativos ao desenvolvimento da Política Pública de Cultura destacada representou na escala de execução financeira da Fundarpe um elevação de 20 milhões em 2006 para 110 milhões em 2009.

Reafirmando o respeito a todos os canais de participação da sociedade, ao longo da consolidação dos processos democráticos, finalizamos o nosso esclarecimento e firmamos nossas posições.





Bom, tomem suas posições!!! A minha, com o perdão dos amigos músicos e seus cachês atrasados, já tá tomada...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O antropófago descolonizado

Beleza de entrevista com Zé Celso Martinez Corrêa na edição de dezembro da revista Fórum, confiram!

De olho no dinheiro que você gasta com impostos - Utilidade pública

Sempre tive uma curiosidade enorme em saber quem fiscaliza e como é utilizada a grana que o cidadão brasileiro gasta nos impostos. Pra tentar facilitar o meu entendimento e o de milhões de contribuintes nacionais, o Governo Federal dispõe duas cartilhas bem esclarecedoras, uma mais bê-a-bá, outra mais hard - ambas de facílima compreensão. Façam bom proveito!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Casulo

Depois de um ano do retorno a terra natal, cogitei não voltar mais a este blog. É que ando meio casulo, pensando nessa vida-odisséia que inventei pra mim (tal como o herói Ulisses, também levei 10 anos pra voltar pra casa!).
Esse recanto de pixels também andava (anda?) sem indentidade. Devendo no quesito criação, ele virou uma coisa meio entre utilidade pública e varal de publicidade dos amigos - o que fiz com muita honra, diga-se! - e de textos alheios.
Quando criei o Dr. E., imaginei que ele fosse me empurrar para o exercício da escrita. Triste engano. Não tive a disciplina suficiente. (E, na verdade, nem sei se deveria, odeio essa coisa da obrigação de escrever, essa idealização do escritor, narcisismos, queijandos, problema meu, eu sei... - E como diria nosso marinheiro: "você pra mim é problema seu!"). Ou, sem delongas e mais precisamente, não fui interessante o suficiente.
Não sei se abandonarei o barco de vez (ué, cadê o Ulisses ques tava aqui? Pode perguntar, atento leitor). Quem sabe uma última chance, até como resistência a onda que invade a blogosfera brasileira - além de pouco criativo e preguiçoso, sou chato. E, enquanto não escrevo, volto a publicar coisas em que me reconheço, como o texto postado abaixo. Que façam por mim, juro que agradeço.

Contra a unanimidade bem comportada

O homem comum

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O que falta em mim é o medo que está por trás da unanimidade bem comportada
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COMO DIZIA o filósofo alemão Franz Rosenzweig (1886 -1929): "Hoje só me interessa o que as pessoas comuns me perguntam". Como ele, não me interessa mais me esconder atrás de alguma teoria pra negar minha insegurança. Segundo o crítico literário canadense Northop Frye (século 20), muitos acadêmicos são pessoas inseguras que se escondem atrás de teorias porque não são capazes de falar em primeira pessoa. Sendo medrosos e pouco criativos, morremos de medo da opinião dos pares. Ao final, o que importa é o corporativismo e o aniquilamento dos desafetos.
Sei que o leitor irritado pensa que sou um elitista. Reconheço minha culpa, minha máxima culpa: tenho dado razão pra que você pense assim. Mas, como diz um personagem interpretado pelo ator Harrison Ford no filme "Divisão de Homicídios", quando é chamado por um subalterno de "sir": "Don't call me sir, I work for living" (não me chame de "sir", eu trabalho pra sobreviver).
Esse é o meu caso, sou um nordestino, entre tantos, que veio pra São Paulo e aqui me virei como pude, fazendo contas todo mês e lidando com medos e crises repetidas de baixa autoestima ao longo do caminho. Como todo mortal, faço o que posso diante da opacidade do mundo e da mentira geral que permeia a ordem das coisas.
Mas não sou um pessimista. Existe a beleza e a generosidade no mundo, elas se misturam a tudo mais, como o ouro se mistura ao lixo, à lama e à violência do garimpo. O próprio fato de que hoje estou aqui falando com você é a prova cabal de que não posso negar a felicidade e o sucesso que existem como possibilidade na vida dos homens comuns.
O que a leitora indignada não entende é que não compactuo com a repressão que hoje tende a destruir o pensamento livre em nome dos ofendidos. Mas não pense que, por isso, eu acredite que esteja "construindo um mundo melhor", porque não compactuo com esta ditadura dos ofendidos. Não acredito num mundo melhor. Como diz meu filho médico de 26 anos: "O sofrimento é uma constante, quando sai de um lugar, aparece em outro". O fato de eu não compactuar com a mentira do bom-mocismo é, em mim, uma condição quase fisiológica, sai como um grito de horror incontrolável. Não é uma virtude, é um vício. É uma dor que pede alívio imediato.
Quer exemplos de máximas que me fazem urrar de dor? "Todos os homens são iguais e legais", "não diga coisas que façam as pessoas desacreditarem em si mesmas", "o mal é uma construção social e não uma constante da natureza humana", "não existem culturas melhores do que outras", "jornalistas de respeito não falam coisas feias em seus artigos", "as mulheres não estão solitárias em suas carreiras profissionais bem-sucedidas", "os homens modernos não sentem que são manipulados pelas mulheres, agora emancipadas, mas que continuem a fazer chantagens emocionais como suas avós faziam pra submetê-los a sua vontade dominadora", "a natureza é uma mãe".
O que falta em mim é o medo que está por trás da unanimidade bem comportada. Não tenho medo que usem contra mim clichês bobos como machista, elitista, fascista, racista. Não sou nada disso, como todo brasileiro, sou uma mistura de europeu, índio e negro. Como todo mundo, tenho alguns preconceitos e quem diz que não os têm são os verdadeiros preconceituosos.
Vou continuar a falar coisas que a ditadura dos ofendidos detesta e eles vão continuar a tentar destruir a liberdade de pensamento, mesmo que se digam defensores da democracia. Se existe alguma democracia defendida pela ditadura dos ofendidos é a democracia da mediocridade, do silêncio e do medo.
Quando falo em pessoas comuns, penso no homem comum do livro "O Homem Comum", de Philip Roth. Penso naquele homem ou naquela mulher que, quando vai ao cemitério e vê um caixão baixando ao solo, inevitavelmente sente um frio na barriga e um desespero na alma. Penso naquela mulher que se vê abandonada depois de anos de dedicação a um homem só porque chegou aos 40 anos e porque não consegue mais sorrir tão fácil. Penso naquele homem que sabe que sua vida está pendurada por uma corda que aperta seu pescoço cada vez que os juros do seu cartão de crédito sobem. Penso naquele idoso que não vê mais seus filhos porque envelheceu pobre.
Penso, enfim, em você, aí sozinho, tomando café da manhã, sonhando com um amor que não existe, com uma família perdida e com um sucesso efêmero como o vento. Imerso na solidão de todos nós.

(Texto do Luiz Felipe Pondé publicado na Folha se São Paulo de ontem, 01/02/10)