domingo, 30 de novembro de 2008

Calculadora - notas dominicais

"E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?"
Almeida Garrett (1799-1854), poeta e romancista português, em Viagens na Minha Terra.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

La Cosecha de Mujeres (cumbia for all) e o beijo roubado

Após a gravidade do post anterior, seguem 3 bilhetes de passeios pela web para aliviar nossas tristes almas. O primeiro, um caso publicado hoje na revista jurídica Última Instância sobre a absolvição de um sujeito que tentou roubar um beijo de uma passageira numa van (clique aqui). Los otros, para bailar...





Bom final de semana à tous...

Santa Catarina S.O.S. - Utilidade pública

Seguem abaixo os números de contas para doações às vítimas das enchentes.

Contas do Fundo Estadual da Defesa Civil, CNPJ 04.426.883/0001-57:

Banco do Brasil - Agência 3582-3, Conta Corrente 80.000-7
Besc - Agência 068-0, Conta Corrente 80.000-0.
Bradesco - Agência 0348-4, Conta Corrente 160.000-1

São mais de 100 mortos e 60 mil desabrigados no lindíssimo estado barriga-verde. Ajude a divulgar ou deixe lá uma contribuição, se puder.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não tem preço (notas de contentamento)


1 - Ver que o Som Barato voltou a rede!!!
2 - Também no ciberespaço visitar o site novo da mundo livre s/a.
3 - Saber que finalmente o livro Leituras sobre música popular (com um artigo deste anotador aqui - há um tempo disponível neste blog na seção "Outros textos estranhos", lado direito da tela) será lançado: dia 5 de dezembro, a partir das 19h na Livraria DaConde - R. Conde de Bernadotte, 26, loja 125 - Leblon, Rio de Janeiro.
4 - Informar que Carnaval no Inferno (pense num título!), disco novo do Eddie, está prontíssimo pra ser lançado no verão.
5 - Receber Fabinho Trummer (Eddie) em casa e ficar, até surgir a barra do dia, escutando som, jogando conversa e, claro, tomando uns birinaites...
6 - Abrir o blog e ler um comentário de Francisco Reginaldo no post anterior...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pense num post!!!

Nós pernambucanos somos, de uma forma geral, materialistas. Não, não somos apegados as coisas materiais, mesquinhos, escrevo no sentido filosófico do adjetivo. A razão de tal característica talvez esteja na história, talvez se deva ao fato de termos sofrido muito diretamente as consequências da dissolução do primeiro dos ciclos econômicos nacionais, o do açúcar. Fomos (e ainda somos) educados pela pedra e pela miséria. Repetimos na vida o velho preceito marxista da infra-estrutura (economia, modos de produção) determinando a superestrutura (cultura, instituições etc.). Não luxamos com pantins ou quaisquer rebolados. Ficou difícil? Mesmo assim, acredite, faz sentido.
No entanto, nós pernambucanos (logo, materialistas) bradamos ao mundo a mais platônica, a mais idealista das expressões populares, quase que soletrada no verbo-interjeição "Peeense!!!". Pense num paradoxo! Nós, da pedagogia mineral e da fudição, diante de qualquer historieta, admiração ou assombro evocamos o velho Platão no mais metafísico dos suspiros: "Pense!!!". Ou ainda, conforme ilustrei três linhas atrás, colocamos o verbo no início da frase imperativa cujo complemento pode ser qualquer coisa, contanto que venha após a contração EM (preposição) + UM(A) (artigo): "Pense numa gramática!".
Seremos contraditórios? Respondo também com o velho Giba, Conde de Apipucos, estendendo ainda mais no plural a sua loa-lesa, sample da pergunta: Os mais contraditórios dos homens!


Ps.: "Pense!", eis a inscrição (sobre a foto da obra clássica "O pensador") do folder da exposição do escultor francês Auguste Rodin que esteve em cartaz no Recife no cabalístico ano de 2000. A mostra bateu recorde de público do MAMAM, com mais de 70.000 visitações. Pense num povo culto!

domingo, 23 de novembro de 2008

O que é (ainda) literatura? - notas dominicais

"Uma definição de literatura é sempre uma preferência (um preconceito) erigido em universal.(...)a literatura é uma inevitável petição de princípio. Literatura é literatura, aquilo que as autoridades (os professores, os editores) incluem na literatura. Seus limites, às vezes se alteram, lentamente, moderadamente, mas é impossível passar de sua extensão à sua compreensão, do cânone à essência. Não digamos, entretanto, que não progredimos, porque o prazer da caça, como lembrava Montaigne, não é a captura, é o caçador."
(Antoine Compagnon em O Demônio da Teoria)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O que é literatura?

Como diríamos nós pernambucanos: pense numa pergunta!!! Já que respondê-la não vou, conto, ao menos, como esse nó chegou até aqui. Aliás, faço mais, receito a própria obra de onde ela foi retirada como solução pro seu (im)possível desenlace.
A história teve início nesta semana, quando criei coragem e comecei a me preparar para mais um concurso a vaga de professor numa universidade pública. Mais uma vez, Letras. E de novo um programa de estudo que não me é muito favorável nem animador: teoria literária. Mas, como canso de escutar dos mais otimistas que toda experiência é válida e tals... Allez!!
Fui ontem na biblioteca da universidade, peguei uns livros e iniciei minhas primeiras leituras. Chaaaatas... Até que olhei pra minha estante e vi um dos títulos que a bibliografia do concurso indica: Teoria da Literatura: uma introdução, do crítico marxista Terry Eagleton. Pois bem, ao reler sua introdução (homônima a este post) me deparei com trechos que me amenizaram o enfado e a solidão de "candidato determinado em busca do objetivo". Passagens um tanto óbvias para conversas que tenho com certos amigos, é verdade, mas que continuam inteiramente válidas e que podem despertar um olhar crítico em alguns curiosos pelo tema. Compartilho-as abaixo (valem a leitura para os interessados em estética de uma forma geral!):

"Não existe uma obra ou uma tradição literária que seja valiosa em si, a despeito do que se tenha dito, ou se venha a dizer, sobre isso. 'Valor' é um termo transitivo: significa tudo aquilo que é considerado como valioso por certas pessoas em situações específicas, de acordo com critérios específicos e à luz de determinados objetivos. Assim, é possível que, ocorrendo uma transformação bastante profunda em nossa história, possamos no futuro produzir uma sociedade incapaz de atribuir qualquer valor a Shakespeare."

“a sugestão de que 'literatura' é um tipo de escrita altamente valorizada é esclarecedora. Contudo, ela tem uma consequência bastante devastadora. Significa que podemos abandonar, de uma vez por todas, a ilusão de que a categoria 'literatura' é 'objetiva', no sentido de ser eterna e imutável. Qualquer coisa pode ser literatura, e qualquer coisa que é considerada literatura, inalterável e inquestionavelmente – Shakespeare, por exemplo -, pode deixar de sê-lo. Qualquer idéia de que o estudo da literatura é o estudo de uma entidade estável e bem definida, tal como a entomologia é o estudo dos insetos, pode ser abandonada como uma quimera.(...)A literatura, no sentido de uma coleção de obras de valor real e inalterável, distinguida por certas propriedades comuns, não existe.”

Bom, repleta de parágrafos do mesmo nível, a introdução (que é bem curta) merece um drop completo (para os mais entusiasmados, aconselho o livro inteiro). Confidencio que teoria assim alivia o isolamento e até regojiza(!). Que Deus me alivie as "pedras" pela frente e... a labuta!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Aos pós-graduados com interesse em docência universitária (Abaixo-Assinado ao MEC)

Este post é de interesse dos pós-graduados com currículos de formação interdisciplinar. Como tal configuração curricular tem impedido a inscrição de candidatos em concursos para docentes nas universidades públicas (essas instituições têm exigido um currículo "limpo", ou seja, graduação e pós na mesma área), uma amiga resolveu escrever uma carta com um abaixo-assinado para o MEC reivindicando uma maior flexibilidade disciplinar nos editais dos processos de seleção. Quem se interessar e quiser assinar bastar clicar aqui (deixarei a petição fixa no lado direito do blog). É isso!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

70 anos do Pássaro Preto

O Íbis, aquele que é considerado o pior time de futebol do mundo, está comemorando 70 anos de existência. Para homenagear a gloriosa data, o jornalista Gabriel Acetti (em parceria com os colegas Felipe Villar e João Ricardo Henriques) realizou como projeto de conclusão de curso o filme Exercício de sacrifício, no qual conta a história do Pássaro Preto. Dividido nas 3 partes que seguem abaixo, vale um confere e umas risadas!


(parte 1)


(parte 2)


(parte 3)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Feudalismo informacional

Bom, cá estou de volta ao lar de pixels após uma semana de viagem. Conforme tinha informado, fui participar do II Simpósio Nacional de Pesquisadores em Cibercultura, onde apresentei uma pesquisa inicial sobre crônica esportiva na web (texto disponível aqui), tema que venho pensando em desenvolver.
Na verdade, o lado mais teórico da cibercultura nunca foi alvo de grandes investimentos de minha parte. Trabalhei com coisas ligadas a esse universo, mas sempre me esquivei de adentrar em suas questões mais técnicas. Decidi ir ao simpósio justamente para iniciar um contato mais próximo com elas.
Pois bem, vi exposições bem interessantes na função. E entre elas destaco a de Sérgio Amadeu, professor da pós-graduação da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, intitulada Cibercultura, Commons e Feudalismo Informacional. Nela, o expositor mostrou como o controle do conhecimento e o bloqueio de seus fluxos, postos em prática pela política do copyright, têm nos conduzido a uma espécie "feudalismo informacional" - expressão que ele tomou emprestada de Peter Drahos, diretor do Centro para Governança do Conhecimento e Desenvolvimento da Australian National University.
A exposição ainda não foi publicada. No entanto, Amadeu me disponibilizou uma cópia. Só para se ter uma idéia do seu conteúdo, trago aqui um parágrafo de palhinha:

"Para um desavisado, a privatização completa da produção intelectual e o tratamento das idéias como se fossem bens materiais, sem limites para a apropriação privada, poderia soar como algo ultra­ eficiente e hipercapitalista. Drahos e Braithwaite demonstram que o resultado seria completamente adverso e seus efeitos podem ser muito próximos aos impactos econômico do feudalismo. Tal como as guildas que controlavam as atividades profissionais colocando interesses corporativos acima dos demais interesses, o controle privatizado do conhecimento somente feudalizará a economia informacional. Colocará em risco uma das principais fontes da criatividade, o conhecimento público e disponível para sua reutilização e recombinação pela coletividade. É relevante observar que '70% dos artigos científicos citados nas patentes biotecnológicas têm origem exclusivamente em instituições públicas comparado com 16,5% provenientes do setor privado'."(DRAHOS; BRAITHWAITE, 212)

Creio que em breve o autor disponibilizará sua apresentação em forma de artigo. Aguardem. É uma aula imperdível, garanto.


ps.: e já que o tema do post é sobre liberdade para geração de idéias, coloquei no lado direito do blog um link para a petição que rola pelo ciberespaço contra o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Tal projeto visa bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral (mais info no Xô Censura!). Vão lá!

domingo, 16 de novembro de 2008

Câmera secreta de tortura - notas dominicais

"Ele jamais lhe falou dessa desventura, e até mesmo parou de pensar no assunto. Mas, de quando em vez, seus pensamentos vagantes se deparavam com essa lembrança, quieta, despercebida, despertavam-na e faziam com que ela revivesse, surgindo no seu consciente, causando-lhe uma dor cortante e profunda. Como se fosse uma dor física, a sensação não podia ser aliviada pela mente de Swann; mas, ao menos no caso de dor física, por ser independente da mente, esta pode sobre ela se deter, perceber que diminuiu, que, por um momento, parou. Mas, nesse caso, a mente, ao relembrar a dor, conseguiu recriá-la. Decidir não pensar na dor era o mesmo que nela pensar, por ela ainda sofrer. E quando, em conversa com os amigos, ele se esquecia da dor, de súbito, uma palavra dita casualmente provocava-lhe uma alteração de fisionomia, como um homem cujo membro ferido é tocado por mão canhestra. Quando deixou a companhia de Odette, ele estava feliz, sentia-se calmo, lembrava-se dos seus sorrisos, da troça sutil, quando falava de fulano ou beltrano, da ternura para consigo mesmo; lembrava-se da gravidade da cabeça dela, que parecia retirada do eixo para pender e rolar, como que voluntariamente, sobre os lábios dele, conforme ela fizera naquela primeira noite, na carruagem, os olhares lânguidos que ela lhe dirigira, enquanto estava em seus braços, apoiando a cabeça sobre o próprio ombro, como quem se encolhe de frio.
Mas, de repente, o ciúme, como se fosse a sombra do seu amor, apresentou-lhe o complemento, a familiaridade daquele novo sorriso com que ela o saudara naquela noite - e que, agora, de modo perverso, zombava de Swann e brilhava de amor por outro - da cena da cabeça pendida, agora afundando em outros lábios, todas as manifestações de afeto (agora dirigida a outro) que ela lhe demonstrara. E todas as lembranças voluptuosas que ele levou da casa dela, por assim dizer, tantos esboços, rascunhos como os que um decorador submete ao cliente, permitindo a Swann formar uma idéia das diversas atitudes, flamejantes ou lânguidas de paixão, que ela adotaria com outros. O resultado foi que ele passou a deplorar cada satisfação que desfrutava em sua companhia, cada nova carícia da qual ele cometera a imprudência de apontar-lhe o prazer, cada novo encanto que encontrava nela, pois sabia que, em algum momento mais tarde, tudo isso enriqueceria a coleção de instrumentos de sua câmera secreta de tortura."
(Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido)

domingo, 9 de novembro de 2008

Notas domênicas e poéticas


"Nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé
certezas o vento leva
só dúvidas continuam de pé."
(p. leminski em O ex-estranho)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Semana Sampa

Aos ilustres visitantes desta bodega eletrônica:
vou ali na metrópole de São Paulo participar de um simpósio. Como não faço idéia de como será minha vida ciberespacial em solo bandeirante, provavelmente ficarei ausente poraqui no prazo de, pelo menos, uma semana. Espero voltar o mais rápido possível... até!

ps.: na seção Sonsestranhos deste blog tem um link novo e bacaníssimo para o Myspace do Estúdio Batuka (arte ao lado) do grande Berna Vieira. Confiram a faixa "Estacionada" (pérola antiga da extinta banda Variant TL) e depois digam. É primeira!

E salve Osam..ops! Obama!

domingo, 2 de novembro de 2008

Sabedoria maori - notas domênicas e antropológicas


"Dá tudo quanto recebes, tudo estará muito bem."
(Provérbio maori)

sábado, 1 de novembro de 2008

Ainda política

Em algum lugar profundo linka com o link do post anterior:

Ainda sobre ideologia

Reparo que entre os navegantes muitos acreditam no enterro da ideologia. É algo assim como acreditar que o homem deixou de pensar. A simples idéia de que a ideologia veio a falecer trai uma ideologia. Dá-se que inúmeros cidadãos, em boa ou má fé, entendem a palavra como sinônimo de comunismo, socialismo, marxismo, etc. Donde, ao ruir o muro de Berlim, assunto encerrado. De minha parte, sei que em países como o Brasil, ainda atados à Idade Média de vários pontos de vista, ainda a padecerem a falta de uma revolução burguesa, nem se diga popular, é indispensável posição clara e firme a favor dos desvalidos, da maioria abandonada ao seu destino. Ou seja, é necessária uma ideologia para sustentar um projeto de desenvolvimento em todas as direções. Como um País tão dotado como o Brasil merece, e não conseguiu até hoje por obra da mais triste, ignorante, vulgar e arrogante elite do mundo.


Salvo um certo materialismo histórico eurocêntrico ("países como o Brasil, ainda atados à Idade Média de vários pontos de vista, ainda a padecerem a falta de uma revolução burguesa"), tô com o Mino Carta...

Para os amigos eleitores cariocas

No blog Biscoito Fino e a Massa está a melhor análise que li sobre as eleições municipais do Rio. Boa leitura!