sexta-feira, 31 de outubro de 2008



Para os que estão no Rio este final de semana, a pedida é esta: Menino-Aranha (cartaz acima), filme de Mariana Lacerda, nossa Baba, a Babuska, que está na programação do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro - Curta Cinema 2008. A fita mostra a trajetória de Tiago João da Silva, menino que escalava prédios no Recife para cometer pequenos furtos e que foi assassinado em dezembro de 2005. A produção recebeu o Prêmio Aquisição do Sesc TV de melhor diretor estreante. Eis a agenda:

Sexta-feira (dia 31), às 19h30, no Cine Odeon
Domingo (dia 02), às 12h30, no Caixa Cultural

Confiram!

E bom final de semana...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tour de force

Estava perto de completar 40 anos. De família classe média, sem influências, a vida não lhe foi muito generosa. Resistia com bicos ou subempregos. Agora andava desempregado e sem perspectivas - sequer ilusões. Um looser, segundo o jargão publicitário e anglo-saxônico corrente. A sua máxima de que "para viver basta memória e imaginação" não lhe aliviava mais o espírito. Muito menos os índices de exclusão da sociedade global. Passou a sentir que era gente somente quando desafiava - com o perdão da rima ruim - a moral vigente. Graças ao escárnio, ao ridículo ou ao risco da prisão. Como ainda lhe restava algum respeito, esperava a morte dos pais para mergulhar de vez em tais combates. Não tendo vícios, vingava a existência apenas nas canções que ouvia. E apesar de ser um personagem de ficção, suas semelhanças não são meras coincidências...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Colarzinho de Pedra Azul


Matinho, rezinha, mergulhadinhas, areinha, colarzinho, deitadinho... só no diminutivo, na maciota, conforme nos ensina a língua do povo (jeito de se expressar que é mais uma de nossas heranças africanas, segundo o tal Mestre de Apipucos). E são com esses substantivinhos e adjetivinhos que Juninho Barreto, desaguadeiro de minh'alma, compôs a mais bela canção dos últimos tempos. Ela está no single que foi lançado este último final de semana no SESC Pompéia, SP (folder da ilustração acima). Valham-me todos os santos, escutem, Colarzinho de Pedra Azul...

domingo, 26 de outubro de 2008

Descanso de futebol - notas dominicais (crônicas clássicas)

DESCANSO DE FUTEBOL

Eu devia ou pelo menos merecia estar aposentado. Mas a idéia sombria da invalidez, e não do ócio com vivacidade, orientou os criadores do instituto de aposentadoria.
Deu-se que um dia, há uns três anos, vislumbrei de súbito que uma aposentadoria especial estava ao alcance de minha mão. Foi uma coisa drástica mas lúcida: exonerei-me do futebol. Descobri num relance que eu somava trinta e cinco anos de futebol e podia muito bem fazer outra coisa nos fins de semana. Pensei: se em trinta e cinco anos ainda não vi o futebol, é porque não tenho olhos para vê-lo. Sim, já vi o futebol. Já vi, vivi e sofri e morri o futebol. Valeu muitíssimo a pena e o prazer, mas não tinha mais sentido me perder no tráfego de sábado e domingo a fim de presenciar do alto da arquibancada um espetáculo já visto e revisto.
Velhos irmãos de opa, sobretudo os de opa alvinegra, ficam irritados com esse meu raciocínio, que consideram um desvio do entendimento, e com essa retirada, na qual farejam uma apostasia. Pois vou aguentando as broncas todas, folheando ainda as páginas esportivas, participando do papo, assistindo a um ou outro vetê vadio, mas decidido a só comparecer ao estádio em caso de compulsão emotiva.
Já vi o futebol. Hoje prefiro e só me cabe rever as fitas da lembrança, onde se gravam os grandes lances do meu aturado exercício de espectador. Não me cansei do futebol, retirei-me dele, insisto, para preservar meu patrimônio de memórias, sem o desgaste da ansiedade de quem continua, em idade canônica, a esperar nas arquibancadas um milagre maior. Já testemunhei os milagres todos que podiam acontecer em campo. Vi nessa longa temporada lances magistrais que possivelmente não se repetirão nos dias de minha vida. Conheço bem a experiência calorosa de sentir-me uno e soldado à alma da multidão, como conheço o sentimento dramático e animador de estar em confronto com a maioria ululante.
Sei que as possibilidades de uma partida qualquer são infinitas; mas não quero disputar mais; não quero mais exercer o pileque dionisíaco da vitória e nem a ressaca autopunitiva da derrota. Na idade magoada em que me encontro, torcer como se deve torcer, com o desvario da alma toda, seria um despudor. Um instinto me aponta o caminho da contemplação futebolística, minhas chances de novidade e plenitude são mínimas.
O futebol já me viu. O futebol jogou-me como quis. O que colhi no campo dá perfeitamente para eu viver mais dez ou vinte anos. No meu celeiro de craques há vívidas memórias de Leônidas, Zezé Procópio, Romeu, Zizinho, Didi, Nilton Santos, Pelé, Sastre, Puskas, Nestor Rossi, e Garrincha, que pode não ser o maior, mas se singulariza por ter demonstrado que a mágica pode ganhar da lógica. Vi maviosos conjuntos, sinfonicamente arranjados, e vi o jam-session das improvisações talentosas. Vi craques nascentes como quem acha um novo amor ou dinheiro perdido. Vivi até onde pude minhas tardes olímpicas e minhas noites de dança ritual ao pé do fogo. Retiro-me com a sensação saciada de que cumpri o dever para com a tribo e não driblei o meu destino.
Meu destino era amar o futebol. Amei-o. Desde criança, quando espiava na lonjura da janela a bola que dançava no capim do clube aldeão. Até hoje não é o perfume da aubépine ou de qualquer outra planta altiva que me proustianiza; é o aroma rasteiro da grama que me espacia."

CAMPOS, Paulo Mendes. O gol é necessário: crônicas esportivas. Organização Flávio Pinheiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 71-74.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Abstêmio (da série "Pensamentos Avulsos" 6)

Estou há 15 dias sem ingerir 1 ml sequer de álcool. Para mim não é nenhum grande esforço ficar sem beber. O difícil mesmo é suportar o mundo sem anestesia...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pequena prece aos "sem pedigree"*


Escrevo hoje aos "sem pedrigree". Refiro-me aqueles soltos na vida, os que não se engancham na máquina-mundo por inviabilidade, chatice ou caráter. Os únicos a possuírem o mais legítimo dos desesperos (única posse, aliás): a própria existência.
E cá estou, engrossando o cordão da sina vira-lata. Estamos no furico da dor. E sem-chance. Nada trago de alento auto-ajuda ou literatices profundas e esnobes - entendo das indisposições para as facilidades ou chiliques tolos. Ofereço apenas três palavras como benção:

Somos sós e dignos.



*(Além dos homenageados do título, este post é especialmente dedicado ao compadre-marinheiro, Guga Peixoto, aniversariante na semana passada, que sempre ensinou: "quem precisa de pedrigree é o dono do cahorro, porque o cachorro mesmo não precisa não!")

domingo, 19 de outubro de 2008

Como se fora um coração postiço - notas dominicais (crônicas clássicas)

“Como se fora um coração postiço...”

Nasceu, na doce Budapeste, um menino com o coração fora do peito. Porém - diz um dr. Mereje - não foi o primeiro. Em São Paulo, há 7 anos, nasceu também uma criança assim. “Tinha o coração fora do peito, como se fora um coração postiço."

Como se fora um coração postiço... O menino paulista viveu quatro horas. Vamos supor que tenha nascido às cinco horas. Cinco horas! Um meu amigo, por nome Carlos, diria:

“...a hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam...”

Madrugada paulistana. Boceja na rua o último cidadão que passou a noite inteira fazendo esforço para ser boêmio. Há uma esperança de bonde em todos os postes. Os sinais das esquinas - vermelhos, amarelos, verdes - verdes, amarelos, vermelhos - borram o ar de amarelo, de verde, de vermelho. Olhos inquietos da madrugada. Frio. Um homem qualquer, parado por acaso no Viaduto do Chá contempla lá embaixo umas pobres ár¬vores que ninguém nunca jamais contemplou. Humildes pés de manacá, lá embaixo. Pouquinhas flores roxas e brancas. Humildes manacás, em fila, pequenos, tristes, artificiais. As esquinas piscam. O olho vermelho do sinal sonolento tonto na cerração, pede um poema que ninguém faz. Apitos lá longe. Passam homens de cara lavada, pobres com embrulhos de jornais debaixo do braço. Esta velha mulher que vai andando pensa em outras madrugadas. Nasceu, em uma casa distante, em um subúrbio adormecido, um menino com o coração fora do peito. Ainda é noite dentro do quarto fechado, abafado, com a lâmpada acesa, gente suada. Menino do coração fora do peito, você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada. Vamos andar pelas praças desertas, onde as estátuas molhadas cabeceiam de sono. Menino do coração fora do peito, os primeiros bondes estrondam. Vamos ouvir de perto esses barulhos da madrugada.

6 horas. O coração fora do peito bate docemente. 7 horas - o coração bate. .. 8 horas - que sol claro, que barulho na rua! - o coração bate...

9 horas - morreu o menino do coração fora do peito. Fez bem morrer, menino. O dr. Mereje resmunga: "Filho de pais alcoólatras e sifilíticos..." Deixe falar o dr. Me¬reje. Ele é um médico, você é o menino do coração fora do peito. Está morto. Os "pais alcoólatras e sifilíticos" fazem o enterro banal do anjinho suburbano. Mas que anjinho engraçado! - diz Nossa Senhora da Penha. O anjinho está no céu. Está no limbo, com o coração fora do peito. Os outros anjinhos olham espantados. O que é isso, "seu" paulista? Mas o menino do coração fora do peito está se rindo. Não responde nada. Podia contar a sua história: "o dr. Mereje disse que..." - mas não conta. Está rindo, mas está triste. Os anjinhos todos querem saber. Então o menino diz:

Ora, pinhões! Eu nasci com o coração fora do peito. Queria que ele batesse ao ar livre, ao sol, à chuva. Queria que ele batesse livre, bem na vista de toda a gente, dos homens, das moças. Queria que ele vivesse â luz, ao vento, que batesse a descoberto, fora da prisão, da escuridão do peito. Que batesse como uma rosa que o vento balança...

Os anjinhos todos do limbo perguntaram:

Mas então, paulistinha do coração fora do peito, pra que é que você foi morrer?

O anjinho respondeu:

Eu vi que não tinha jeito. Lá embaixo todo mundo carrega o coração dentro do peito. Bem escondido, no escuro, com paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne cobrindo. O coração trabalha sem ninguém ver. Se ele ficar fora do peito é logo ferido e morto, não tem defesa.

Os anjinhos todos do limbo estavam com os olhos espantados. O paulistinha foi falando:

E às vezes, minha gente, tem paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne, e no fim disso tudo, lá no fundo do peito, no escuro, não tem nada, não tem coração nenhum. "E quando eu nasci, o dr. Mereje olhou meu coração livre, batendo, feito uma rosa que balança ao vento, e disse, sem saber o que dizia: "parece um coração postiço". Os homens todos, minha gente, são assim como o dr. Mereje.

Os anjinhos estavam cada vez mais espantados. Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho de cinema, e aí, foi, acabou a história. Porém o menino estava aborrecido, foi dormir. Até agora, ele está dormindo. Deixa o anjinho dormir sono sossegado, dr. Mereje!

Rubem Braga

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Olhares estranhos (da série "Pensamentos Avulsos" 5)

Gerusa adora minha seriedade
Marta, a fanfarrice
Para Pedro sou radical
Já aos olhos de Cláudio, um Playboy
Ana diz que pareço não ter libido
Enquanto Andréa me vê como raparigueiro



Eu também vejo cada coisa!...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Revolução na Urca: Zizek!


Esqueci de divulgar nesta bodega eletrônica a conferência que o filósofo Slavoj Zizek proferiu ontem no campus da UFRJ na Urca (este é um blog cada dia menos sério...) . O Dr. E. foi lá e conferiu a verve retórica do esloveno (que, aliás, não é fraca, não!). A exposição ficou um tanto desamarrada, pois ele fala como um cavalo brabo que se solta no campo - é um intelectual "sujo", no melhor sentido rock'n'roll da palavra. Cuspirei, no mesmo estilo, alguns pontos que foram abordados:
- começou argumentando que se debruça sobre o cinema hollywoodiano pois é nele que a ideologia se apresenta de forma mais clara para o grande público. Exemplificou com dois filmes recente: Batman - O Cavaleiro das Trevas e o desenho animado Kung-Fu Panda;
- o comentário acima parece óbvio, mas serviu de ótima introdução para o principal tema de sua fala: ideologia;
- comentou sobre o filme Eles vivem (segundo ele, em matéria recente do caderno Mais!, uma das obras-primas esquecidas da esquerda de Hollywood), de Jonh Carpenter, no qual o protagonista ao usar um óculos estranho que encontrou passa a enxergar todas as mensagens reais da publicidade (tipo: "não pense, consuma!");
- discorreu sobre os estágios históricos da publicidade, classificando-os em três: 1) quando a mensagem dizia diretamente ao produto (ex.: esse é o carro mais econômico, mais forte etc.); 2) quando ela fazia o consumo do produto implicar em status (ex.: seu vizinho não tem um carro desse); 3) o atual, quando o produto lhe arranca deste mundo em ruínas (ex.: entre nesse carro e deixe pra trás todas as mazelas que lhe aflingem);
- criticou alguns modismos do mundo contemporâneo como o consumo de orgânicos e do espiritualismo oriental. Atacou também a nova campanha da rede Starbucks que concede 5% do dinheiro de um café aos pobres de algum país do terceiro mundo. Considerou tudo isso como formas de descarrego da culpa, mecanismos que aliviam as pessoas, não levando-as a realmente pensarem sobre o funcionamento do planeta (mais um modelo ideológico);
- condenou certos tipos de lutas minoritárias que, para ele, são muitas vezes falsos embates previstos (e estimulados) pela ideologia dominante;
- sobre a América Latina atual, chamou a atenção para um perigo populista em Hugo Chávez, ressaltando, no entanto, que gosta de sua luta;
- meteu o pau no clima dos fóruns sociais mundiais, classificando-os de eventos "carnavalizantes", no sentido do termo empregado pelo teórico russo Mikhail Bakhtin (que também foi alvo). Para ele o melhor seria que o carnaval não fosse o evento, e sim a normalidade da vida.
- desceu a lenha também no cineasta Emir Kusturica, a quem acusou de folclorizar os balcãs (usou o termo "balcanismo" em analogia ao "orientalismo" de Edward Said);
- Por fim, concluiu dizendo que segue acreditando, acredite, na revolução.

Bom, quem quiser conhecer mais sobre o Zizek, ele acaba de lançar um livro no Brasil chamado A visão em paralaxe (pela editora Boitempo) e escreve na seção "Autores" do citado Mais!, suplemento dominical do jornal Folha de São Paulo. Ah! encontrei também este vídeo no canal de televisão de todos, o Youtube (a tradução é em português de Portugal, única na língua que encontrei):

domingo, 12 de outubro de 2008

"Somos nós os Vassourinhas" - notas dominicais (2)

Matéria que saiu hoje no Jornal do Commércio de Recife:

Aposentada descansa em casa com a família

Terminou, ontem, às 9h, o martírio da aposentada Lídia do Bom Parto Simões (foto), de 87 anos, abandonada pelo neto num ônibus que saiu do Rio de Janeiro com destino a Feira de Santana, na Bahia. Depois de quase 15 dias de sofrimento, sem parentes ou documentos e com apenas R$ 10 no bolso, ela chegou à casa onde viverá a partir de agora, com o filho Antônio Ferreira da Silva, 63, no Amparo, em Olinda, município da Região Metropolitana do Recife.

Ainda confusa com os acontecimentos, parcialmente cega e surda, e com uma avançada perda de memória, dona Lídia só pensava em comer. “Estou com fome, muita fome. Cadê minha comida?”, indagava a todo instante, enquanto era cercada e paparicada pela família. Sentada num sofá e com uma boina nas cores do Santa Cruz Futebol Clube, a toda instante ela brincava ou fazia perguntas sobre o lugar onde estava. “É aqui que vou viver agora? Eu vou embora, aqui não é tão bonito como lá (Rio de Janeiro)”, dizia, dando risadas.

Momentos depois, dava sinais de lucidez. “Cadê Amaro? Você sabe dele? Ele tem vindo aqui?”, perguntava, numa referência ao mais novo dos dez filhos, Amaro Ferreira da Silva, 50 anos, que reside na Zona Norte do Recife. Também fez referência a possíveis maus tratos sofridos no Rio. “Eles jogavam água quente e depois água fria sobre mim. Me deram até injeção na boca”, contava. A família da aposentada era pura felicidade. “Agora eu tenho mãe. Ela não sai nunca mais de perto de mim. Onde eu for, ela vai comigo. Vou cuidar dela até o fim”, vibrava o pedreiro Antônio Ferreira da Silva.

Apesar da revolta, o pedreiro disse que iria esquecer o que houve, deixando claro que não tomaria providências contra os familiares que abandonaram a aposentada no ônibus, após vender a casa onde ela vivia na Zona Norte do Rio de Janeiro e sumir com o dinheiro. “Não vou entrar na justiça contra eles. Por mim, já perdoei e entrego a Deus e aos homens de bem para ver o que acontece. O que importa é ter achado minha mãe e estar com ela. Mas que nenhum deles se atreva a vir por aqui”, afirmou.

A única preocupação do pedreiro é descobrir o total das dívidas que os parentes do Rio de Janeiro fizeram em nome da mãe, já que estavam vivendo da aposentadoria que ela recebe. “Queremos regularizar a situação dela para que volte a ter seu próprio dinheirinho. Vamos usá-lo com ela. Pretendo, se der, fazer um quarto na minha casa só para ela. Por enquanto, vamos nos ajeitar como podemos”, disse.

Depois de comer um prato com feijão, arroz, farinha e cozido, dona Lídia pediu diversas vezes ao filho para levá-la à sede do Clube Vassourinhas, que fica próximo à casa onde agora irá viver. “Você me leva lá, leva?”, insistia a aposentada.

O triste fim do Deus Mercado - notas dominicais

"Dizem que as ideologias estão no cemitério. É como se ninguém tivesse direito às suas idéias. Claro que certas ideologias, derrotadas na sua prática, morreram de morte morrida. Não faltarão outras, novas em folha. Nas últimas décadas, e sobretudo depois da queda do Muro de Berlim, a religião neo-liberal do Deus Mercado tripudiou sobre o passamento do socialismo real. Agora chegou a vez dela. Praticado sem freios, o fundamentalismo financeiro soçobra neste exato instante em meio a uma tormenta sem par. Transformaram o mundo em uma roleta a circular em torno do sol. Em um cassino do faraoeste, ao resguardo de qualquer regra. Que esperavam, que a farra durasse para sempre? Permitam uma filosofada. Acho que antes da ideologia vem a ética. É dela que decorrem a busca da igualdade e o reconhecimento de que a liberdade por si só não basta, e exige as indispensáveis limitações da lei. É a ética que não nos permite viver em paz em um mundo e em uma sociedade desiguais. Não há consciência ética em quem aceita a miséria do semelhante como fato corriqueiro, normal, natural. Este, diria Norberto Bobbio, não é de esquerda."
(Mino Carta de volta a blogosfera!)

sábado, 11 de outubro de 2008

Download neles, Presidente!!!

Notícia publicada hoje n'O Globo:

Presidente Lula diz que baixou três músicas na internet

RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta sexta-feira, em entrevista a portais da internet, que já baixou três músicas na web para presentear os governadores Cid Gomes (Ceará) e Jaques Wagner (Bahia). Lula contou que quase não acessa sites, apesar de achar a rede mundial de computadores um meio de comunicação revolucionário. O presidente comentou ainda a polêmica que envolveu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que limitou a propaganda dos candidatos na internet.

Lula revelou que baixou as canções "Viola Enluarada", de Paulo Sérgio e Marcos Valle, e "O Comedor de Gilete", de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, com a interpretação de Ary Toledo, para presentear o governador do Ceará, Cid Gomes. O presidente não lembrou o nome da terceira canção, segundo o G1, mas arriscou cantar alguns versos.

- A outra, que eu queria dar para o Jaques Wagner, eu não sei o nome do cantor, mas que homenageia a Bahia. A música diz assim: "sou da Bahia, comigo não tem horário, não sou otário e ninguém pode zombar. Sou cabra macho, sou baiano toda hora"

O presidente defendeu a liberdade de expressão na internet, mas com regras. Ele reconheceu que a facilidade em baixar músicas prejudica as gravadoras de CD e DVD.

- Não sei como os donos das produtoras vão sobreviver nesse mundo libertário que a internet possibilita às pessoas. Não sei se estão exigindo alguma regulamentação, mas em algum momento alguém vai começar a chiar em relação a isso. Outro dia estava pensando, a pessoa tira todas as músicas que ele quiser na internet e aí as pessoas ficam discutindo a pirataria, ou seja, a pessoa tira dentro de casa - afirmou.


Mais um viva ao nosso presidente!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cabeça de alcachofra

“Tudo que existe neste mundo tem um propósito. Veja aquela pedra, por exemplo. Qualquer uma. Até essa pedrinha serve para alguma coisa. Não sei para quê. Se soubesse, saberia por que estou aqui. O Pai Eterno é que sabe tudo. Quando se nasce, quando se morre... Ninguém sabe. Não sei para que serve esta pedra, mas deve servir para algo. Pois se ela for inútil, então tudo é inútil. Até as estrelas, quem sabe? Até você serve para alguma coisa, com sua cabeça de alcachofra”.
(O Louco, em A Estrada da Vida, Federico Fellini, 1954)

Acabo de ler o trecho acima após cumprir as obrigações que me atormentavam. Tormentos de práxis. Desta vez, elas me herdaram uma insatisfação do tamanho do universo (o que mais herdaria um homem sem qualidades?!). As honestíssimas obrigações, estas perversas maquinistas que nos conduzem sobre o trilho tomado pela existência. Qual seria outro? (eis a igualmente inevitável pergunta-à-reboque) Piuí, piuí, o cabeça de alcachofra aqui segue em seu tortuoso périplo afim de encontrá-lo...

domingo, 5 de outubro de 2008

Complacência - notas dominicais


"Divertir-se significa estar de acordo."
(Theodor Adorno no clássico ensaio "A indústria cultural - o Iluminismo como mistificação das massas")

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O pai da Asa Branca

Ilustres amigos, pantaleões e visitadores(as),
os últimos dias andam dificultando minhas postagens neste latifúndio de pixels. É que ando as voltas com o novo trabalho e com um texto (para um simpósio) que preciso entregar até o dia 10 deste mês. Enquanto isso, indiferente aos meus dramas, rola solto aqui na Guanabara o Festival do Rio, com filmes inéditos espalhados pelas melhores casas do ramo desta cidade. Pra terem uma idéia, não fui assistir a uma película sequer!

Mas aproveito a siesta desta sexta pra divulgar o trabalho do amigo Lírio Ferreira que faz estréia hoje na função. Trata-se d'O Homem Que Engarrafava Nuvens, documentário sobre Humberto Teixeira (foto), o cabra-bom que, junto com o Rei do Baião, compôs "Asa Branca", maior hit sertanejo de todos os tempos.
Para quem interessar, eis as datas, os horários e, ainda, os locais onde o danado será projetado:

SEX (3/10) 20:00 Palácio 1
SAB (4/10) 11:00 Odeon Petrobras
DOM (5/10) 15:40 Est Vivo Gávea 3
DOM (5/10) 22:10 Est Vivo Gávea 3

Agora digam que não foram avisados?!

Prestigiem, criador e criatura entendem do riscado!

e bom final de semana a todos... Dr. E.