quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Nação cevada

O título deste post é aparentemente provocativo. Aparentemente apenas, tendo em vista que a provocação que ele pode conter não é óbvia como o seu enunciado. Explico-me adiante.


Após a apresentação da Nação Zumbi no último sábado, na festa do bloco Sala da Justiça, começou um zum-zum-zum pela cidade do Recife de que a banda tinha se vendido a uma grande marca de cerveja, pois antes de emendar o hit “Quando a Maré Encher”, ela tocou um jingle comercial de tal cervejaria. Esta polêmica lembrou a mesma que ocorreu envolvendo a mundo livre s/a que no ano passado negociou um de seus sucessos com um fabricante de sandálias. Celeuma besta, já que a marca nunca interferiu no processo criativo nem no conteúdo da mlsa que continua disseminando seu som e, sobretudo, sua contra-informação por onde passa. O mesmo, assim espero, deve ocorrer com a Nação. Não me alongarei nesta discussão que é bastante clara para mim. E concordo inteiramente com os argumentos de Renato L no Manguetronic - não os reproduzirei aqui, basta dar um clique no título do blog para vê-los - sobre o assunto.


A discussão ou pensamento que acho mais pertinente criada pela situação, creio eu, diz respeito ao envolvimento da banda numa publicidade de bebida alcoólica. Isto porque, por princípios, não concordo com a divulgação de tais produtos pelos veículos de comunicação de massa nem em lugares públicos de uma forma geral. Moralismo? Hippismo? ReQuem apostou nestes juízos errou os dois tiros – os amigos deste estranho dotô me conhecem... O que penso e acredito é que a sociedade não carece - pelamor de Deus, não entendam mal, não sou contra esses produtos e sim contra suas divulgações massivas pela pub cada vez mais pesada. Como ia dizendo, a sociedade não precisa, não precisa da banalização entorpecedora do consumo de drogas legais - que comumente são mais pesadas que algumas ilegais – promovida pelas grandes agências publicitárias. Sou categoricamente contra a liberdade concedida pela legislação que autoriza a divulgação de tais produtos – o que aconteceu em relação ao tabaco foi um acerto que deveria se estender aos outros produtos com substâncias alucinógenas. Da publicidade e suas pedagogias na relação com as drogas legais, eis a discussão que, para mim, deveria mais interessar nessa história toda.


Creio na idéia de que as sociedades necessitam de seus mistérios e ritualizações, instâncias nas quais as presenças do álcool e/ou de outros “avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência” são praticamente imprescindíveis. Sempre na manha e na festa, aí sim!, na criação de uma nação cevada...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Falso Narciso (ou Materialismo Poético)*

O que escrevo sou eu.
E eu sou o mundo.



*(para minha irmã, Kataflan)

domingo, 27 de janeiro de 2008

Raiz do problema- notas dominicais

"Lucy: Sabe qual é o problema com você, Charlie Brown? O problema é que você é você.
Charlie Brown: Bem, e o que eu posso fazer?
Lucy: Não dou conselhos, apenas aponto a raiz do problema."

Charles M. Schulz (1922-2000)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Novos links!

Ontem aproveitei a gripe que me tira de ação desde segunda para dar uma geral na seção de links que fica no canto esquerdo da tela deste blog. Corrigi os que tavam fora da rede, como eram os casos dos das bandas Nação Zumbi (a partir de hoje vai direto para o belíssimo site do último disco Fome de tudo) e da mundo livre s/a (agora cai no diário da banda que é atualizado pelo super Walter Areia, baixista do grupo), e do Manguebit que estava destivado e que foi trocado pelo novo Manguetronic - recauchutado em formato blog e atualizado pelo ministro da informação da cena de Recife Renato L (visitem!).
Mas novidade mesmo foi a inclusão de dois novos links: um para o site da musa Maria Rita Kehl , psicanalista de primeira que já escreveu para vários veículos de comunicação do país; e o outro para o Palestina do Espetáculo Triunfante, blog de pegada situacionista da sista Katarina Peixoto, autora da frase genial: "Deus nos dê fígado, pois temos o mundo inteiro pela frente..." (contida na faixa "E a Vida Se Fez de Louca" do O Outro Mundo de Manuela Rosário, quinto disco da mundo livre s/a).
Aproveitem, música e contra-informação nesse latifúndio de ninguém que é a web. E o melhor é o precinho: R$0,00!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Poesência (hai kai de ocasião)

A paciência
É um ato de poesia
Por excelência

domingo, 20 de janeiro de 2008

Cabeça dos outros - notas dominicais e Schopenhauerianas

"A cabeça dos outros é um lugar desventurado demais para que a verdadeira felicidade tenha assento."
Schopenhauer, Parerga e Paralipomena (1851)


Rua da Aurora, verão (2008)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Amor de papangu

Ah, estilhaços coração, fostes acusado, veja só, de folclórico! Agora não sei se tomo meu amor cabocolinho como mérito ou desgraça. Não acreditas em mim, linda flor de acusação? Talvez tenhas razão, na deixa da rima, sou facinho não. E sei das dificuldades para se crer nos homens trôpegos e escalenos. Quanto a mim, pobre cafuçu desta espécime, não posso ignorar aquilo que me dispara o miocárdio, abala os membros e me cambaleia... Onde estará a verdade então? Em tua fantasiosa interpretação de que não a amo ou na concretude do meu corpo alterado diante de tua presença? Mais um folclore de um coração que não vale uma serpentina já atirada ou o amor de muito de uma víscera que carrega o sentimento do mundo?

(rascunho encontrado no bolso de uma fantasia de papangu - clóvis para o resto de Pindorama -, ao revirar o baú das alegorias existenciais...)

domingo, 13 de janeiro de 2008

Equilíbrio absoluto - notas dominicais XXIX

"O homem vive num equilíbrio instável, que com os anos se estabiliza cada vez mais, até que ele encontra o equilíbrio absoluto, que é a morte."
Michelangelo Antonioni

sábado, 12 de janeiro de 2008

Extra! Extra! A degola dos palhaços!

Incrível!Incrível! Salve, salve, o fabuloso mundo youtube! Descobri no acervo da televisão mais democrática do planeta o maior filme do cinema pernambucano de todos os tempos, o super super 8 O palhaço degolado, sensacional obra do grande Jomard Muniz de Britto. O Doutor Estranho disponibiliza a fita e ajuda na ceifa dos clowns...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Manguetown, o Caribe é aqui!

Centésimo post! E para comemorar a centena, carenagem nova - só a fuleiragem do responsável aqui é que continua a mesma... Para inaugurar o figurino, segue uma narrativa da estação.

Estávamos eu e Fabinho Trummer (banda Eddie), sabadão de dezembro último, na praia de Boa Viagem, comendo ostra e gastando o juízo em prosas aprumadíssimas e intermináveis - verdadeiro mar de histórias. Conversa vai, conversa vem, em determinado momento, o menino de Olinda pediu a palavra e sentenciou: “vê só, a gente tem a hora que quiser este mar e todos os coqueiros que a vista consiga enquadrar, escutamos muita cumbia e, pra completar, as moças daqui são quentes como este sol que queima nossas carcaças... eu mesmo vou comprar pão perto de casa só de short. Sinto-me no Caribe! Ser caribenho é um estado de espírito!”
Eu que já tinha ouvido ladainhas tantas acerca de desterritorializações, desconstruções identitárias, hibridismos e outras mumunhas afins, ri e concordei. Não haveria porque contestá-lo, o rapaz da guitarra tava certo, Maciel Salu!
Logo no dia seguinte, estava eu terminando de ler o livro “Música e simbolização” da consultora de pesquisa Rejane Sá Markman (que curiosamente pariu um ganso, mas isso já é outra história, ou melhor, outro drama) – obra que analisa o Manguebeat como movimento contracultural - e eis que me deparo com o seguinte trecho nas considerações finais do trabalho:
“Os conteúdos obtidos na pesquisa (da autora) apontaram para a presença predominante dos componentes da cultura popular nas letras das músicas estudadas e na forma como se combinavam com os elementos globais. Esses dados sugeriram que não se pode apontar no sincretismo realizado nas letras a presença de uma atitude de subordinação a esses aspectos culturais exógenos. O uso desses elementos produziu uma ‘apropriação renovada’, nos moldes conceituados e discutidos no Capítulo I deste livro. A forma de utilização do global pelo Manguebeat seria semelhante a que Daniel Miller (1996) percebeu no seu estudo sobre a cultura caribenha, quando esta se pôs em contato com as representações dominantes da cultura norte-americana.”
São as vozes da academia confirmando a tese de beira de mar do Dr. Trummer. Faro antropológico Olinda style, certeiro como a esperança, a fé em Deus e este oxímoro indispensável que é a ilusão...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Batendo o centro do ano

Sim caros leitores, o primeiro post do ano. Uma croniqueta futebolística. Ainda não deste doutor que agora vos assombra com sumiços e aparições esporádicas e que anda de férias com o vernáculo...
E se não escrevo, que escrevam sobre mim, ora pois! Eis um texto para desvendar-me! Brodagens tantas nas folhas de hoje do paulistano jornal dos Otávios Frias... Boa leitura!

ps.: mais uma promessa: como o próximo post é o centésimo desta bodega eletrônica, prometo regularidade, claro, e novidades!

Um homem sem futebol
Por XICO SÁ

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, estava aqui com um grupo de chegados, numa simpática taberna do Recife, discutindo os rumos da humanidade, quando um dos nossos cavaleiros da mesa redonda solta o berro: "Golaço!!!".
Você não está entendendo, amigo, não foi um berro qualquer, um grito familiar, nem tampouco um humaníssimo manifesto de rotina do bicho homem. Foi daqueles brados retumbantes, guturais, que irrompem do estômago dos monstros do trash metal e das cavernas do Medievo. De repente aquela tarde à João Gilberto, com barquinhos à bossa nova ao longe, é tomada pelo Iron Maiden e todos os zumbis do outro mundo.
É isso o que o ingrato recesso do futebol causa em nós, marmanjos doentes, eternos Peter Pans ludopédicos. É isso, um simples gol de pelada na praia do Pina, nos contornos de Brasília Teimosa, vira comoção, o ritual mais primitivo do coração das trevas. O pior é que só o amigo Roberto Azoubel, o dono do grito, viu o golaço. Só o "doctor estranho", sua nova alcunha, solitariamente testemunhou o épico. Para nosso desgosto, óbvio. Só nos restou, naquele momento solene, roer as unhas da inveja em busca de um replay impossível, um videoteipe imaginário.
O "golaço" incendiou a fantástica usina de fabulações que é a mente humana privada dos grandes embates. Tivemos de nos contentar com a narrativa da testemunha, que deu conta de uma tabela na canela do rival e um toque sutil por debaixo do último beque que guardava a trave portátil. A bola passou rente ao latifúndio dorsal do zagueiro e foi conduzida caprichosamente, com ajuda de vento e maré, ao fundo do filó. Daí o grito, salivado de testosterona e jejum futebolístico: "Golaço!!!".
Jô, a costela amada da testemunha, teve um susto só comparado à primeira vez que viu "Psicose"; Lirioboy passou a chamar o artilheiro do Pina de Roberto Coração de Leão, grande ídolo do seu Sport Recife; DJ Dolores, entretido com uma "boyzinha" à milanesa-cafuçu, típica modelo das fotos de Bárbara Wagner, também não viu a pintura, mas assinou embaixo. Esse intervalo quase sem futebol, amigo, deixa mesmo os homens sem noção, lesados no paraíso, Adões entregues às vontades pecaminosas e bestiais.
Por ventura e sorte, este cronista acabara de chegar de Juazeiro, onde teve a felicidade de ver a Copa Integração, o que garantiu o sagrado fornecimento de ópio aos torcedores até a véspera do último dia do ano. O torneio reuniu times dos sertões de Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.
O Icasa, o verdão da Meca do Cariri, sagrou-se campeão no derby com o rubro-negro Guarani, o Leão do Mercado. No domingo, repetem a peleja, valendo pelo Cearense-2008.
E aos poucos teremos os Estaduais de volta, alvíssaras, porque os embates da aldeia são os mais universais. Porque um homem sem futebol retorna à condição de bárbaro, é ameaça aos contratos sociais, é capaz de atos de um Jack, de um Chico Picadinho, de um Bandido da Luz Vermelha, de um Monstro da Madalena, de um Maníaco do Parque.
Que a terra nos seja leve em 2008 e que gire em torno do sol como na primeira visão de Copérnico, tal e qual a bola manhosa que cisca e se enrosca, carinhosamente, no fundo de uma rede de várzea.